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Jesus - Leonardo da Vinci
I - INTRODUÇÃO
Os quatro evangelistas - Rubens
Os textos que se seguem fazem parte dos quatro Evangelhos do Novo Testamento. A sua escolha poderá não ser pacífica.
Esta tentativa de traçar um quadro da vida e dos ensinamentos de Jesus, utilizando fragmentos dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, não pode ser classificada como histórica.
Optámos por não comentar nenhum dos textos, bem como não exercer nenhum juízo crítico, quer sobre o seu conteúdo quer quanto à sua origem, não obstante possamos descortinar inúmeras contradições por eles suscitadas, nomeadamente no que respeita à ressurreição do Senhor.
Desconhecemos a data exacta do nascimento de Jesus. Desconhecemos a data da sua morte. Desconhecemos quem são os verdadeiros autores dos Evangelhos, onde foram escritos e quando.
Mas uma coisa é certa: nunca se escreveu tanto acerca de um homem de quem historicamente tão pouco ou nada se sabe, para além do que os Evangelhos nos narram. Textos de rara beleza, não obstante a sua manifesta simplicidade.
Esta é a visão possível do Jesus Evangélico, dos seus ensinamentos e ditos, tão importantes para cristãos como para não-cristãos.
A sua mensagem é tão válida nos dias que correm como o foi há dois mil anos. Sã e frutuosa, porque os tempos são conturbados e continuarão a sê-lo enquanto existirem homens.
Que as suas palavras nos possam auxiliar no verdadeiro caminho para o Espírito, imitando-o nós na medida das nossas possibilidades e crenças.
VIDA E DITOS DE JESUS
Reni
VIDA E DITOS DE JESUS SEGUNDO OS EVANGELHOS
JOÃO I
No princípio era o Verbo
No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e Deus era o Verbo.
No princípio, o Verbo estava com Deus.
Todas as coisas existiram por via da sua acção e sem ele nada foi feito nem existiu. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilhava nas trevas, mas as trevas não dominaram a luz.
Houve um homem enviado por Deus. O seu nome era João. Este veio como testemunha, dando testemunho da luz, a fim de que todos, por meio dele, acreditassem. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
O Verbo era a luz verdadeira, que vindo ao mundo, iluminava todo o ser humano. Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos os que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus. Aos que creem em seu nome, ele, que não foi gerado nem do sangue, nem da vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus.
E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.
LUCAS 1
Anúncio e nascimento de João Baptista - Zacarias e Isabel
No tempo de Herodes, rei da Judeia, houve um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias; e sua mulher, descendente de Abraão, chamava-se Isabel.
Ambos eram tidos por justos diante de Deus e, de modo irrepreensível, seguiam todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois tinham uma idade avançada.
Aconteceu que, desempenhando Zacarias as funções sacerdotais diante de Deus, na vez da sua classe, coube-lhe por sorte, conforme o costume sacerdotal, entrar no Santuário do Senhor para queimar incenso.
Toda a assembleia do povo estava fora, em oração, na hora do incenso.
Apareceu-lhe o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias perturbou-se e o temor apoderou-se dele.
Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Zacarias, porque a tua súplica foi ouvida, e Isabel, tua mulher, vai dar-te um filho, ao qual porás o nome de João. Terás alegria e regozijo, e muitos alegrar-se-ão com o seu nascimento, pois será grande diante do Senhor.
Não beberá vinho, nem bebida embriagante, persistirá pleno do Espírito Santo ainda no seio de sua mãe e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Ele caminhará à sua frente, com o espírito e o poder de Elias, com a finalidade de converter os corações dos pais aos filhos e os desobedientes à prudência dos justos, de modo a entregar ao Senhor um povo bem preparado.»
Zacarias perguntou ao Anjo: «De que modo o saberei? Pois eu sou velho e minha esposa é de idade avançada.»
Respondeu-lhe o Anjo: «Eu sou Gabriel, o que está de pé na presença de Deus, e fui enviado para te anunciar essa boa-nova. Eis que ficarás mudo e sem poder falar até ao dia em que tal acontecer, porquanto não acreditaste nas minhas palavras, que se cumprirão em tempo oportuno.»
O povo esperava por Zacarias, admirado com a sua demora no Santuário. Quando saiu, não lhes podia falar. Aí compreenderam que Zacarias tivera alguma visão no Santuário. Falava-lhes por sinais e permanecia mudo.
Completados os dias do seu ministério, voltou para casa.
Algum tempo depois, Isabel, sua esposa, concebeu, escondeu-se por cinco meses e dizia: «Isto o fez por mim o Senhor, quando se dignou afastar de mim a reprovação que tinha perante os homens!»
LUCAS 1
A anunciação – O Anjo Gabriel
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, junto a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
Entrando onde ela estava, disse-lhe: «Alegra-te, Maria cheia de graça, o Senhor está contigo!»
Maria ficou intrigada com essas palavras e pôs-se a pensar no significado da saudação.
O Anjo, porém, acrescentou: «Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás de Jesus. Ele será grandioso, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de David. Ele reinará para sempre na casa de Jacob, e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao Anjo: «Como é que isso pode acontecer, se eu não conheço homem?»
O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo descerá sobre ti e o poder do Altíssimo irá cobrir-te com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parente, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela a quem chamavam de estéril. Para Deus nada é impossível.»
Disse Maria: «Eis a escrava do Senhor. Que tudo me aconteça segundo a tua palavra.»
E o Anjo deixou-a.
Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho para uma região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo.
Com um grande grito, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! De onde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando aos meus ouvidos chegou a tua saudação, a criança estremeceu de alegria no meu ventre. Feliz aquela que crê, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!»
Disse Maria: «A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador, porque olhou para a humilhação da sua serva. Doravante todas as gerações me hão-de chamar de bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e a sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força do seu braço e dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos dos seus tronos, e exaltou os humildes. Cumulou famintos de bens e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrado a sua misericórdia conforme prometeu a nossos pais.»
Maria permaneceu com Isabel mais ou menos três meses e voltou para casa.
LUCAS 1
João Batista
João Baptista - Leonardo da Vinci
Quanto a Isabel, tendo-se completado o tempo para o parto, ela deu à luz um filho.
Os vizinhos e os parentes ouviram dizer que Deus a enchera com a sua misericórdia e com ela se alegraram.
No oitavo dia, foram circuncidar João Baptista. Queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias, mas a mãe, tomando a palavra, disse: «Não, ele chamar-se-á João.»
Replicaram-lhe: «Entre os teus parentes não há ninguém que tenha esse nome!»
Por meio de sinais, perguntavam ao pai como queria que se chamasse o filho. Pedindo uma tabuinha, ele escreveu "seu nome é João", e todos ficaram admirados. E a boca abriu-se-lhe imediatamente, a língua soltou-se e começou a falar, bendizendo a Deus.
O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a região montanhosa da Judeia estes factos eram comentados. E todos os que ouviam gravavam essas coisas no coração, dizendo: «Que virá a ser este menino?» E, de facto, a mão do Senhor estava com ele.
Zacarias, seu pai, repleto do Espírito Santo, profetizou: «Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e suscitou em nós uma força de salvação na casa de David, seu servo, como prometera desde tempos remotos pela boca dos seus santos profetas, salvação que nos liberta dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia com nossos pais, lembrado da sua aliança sagrada, do juramento que fez ao nosso pai Abraão, de nos conceder que sem temor, libertos da mão dos nossos inimigos nós o sirvamos com santidade e justiça, em sua presença, todos os nossos dias. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frente do Senhor para que lhe prepares o caminho, e para transmitir ao seu povo o conhecimento da salvação, pela remissão dos seus pecados. Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo qual nos visita o astro das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, para guiar os nossos passos no caminho da paz.»
João Baptista crescia e fortalecia-se em espírito. E habitou nos desertos, até ao dia em que se manifestou a Israel.
LUCAS 2
Nascimento de Jesus e visita dos pastores
Nascimento de Jesus – Ghirlandaio
Naqueles dias, apareceu um édito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo romano. Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da Síria. Todos deveriam recensear-se, cada um na própria cidade.
Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a Judeia, na cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da família de David, e para se recensear com Maria, sua mulher, que estava grávida.
Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogénito. Envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoira, porque não havia lugar para eles na sala.
Visita dos pastores
Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite organizavam a guarda do seu rebanho.
O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz.
Ficaram tomados de grande temor.
O anjo, porém, disse-lhes: «Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: Nasceu hoje um Salvador, que é Jesus, na cidade de David. Isto servir-vos-á de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas, deitado numa manjedoira.»
Repentinamente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar Deus dizendo: «Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!»
Quando os anjos os deixaram, dirigindo-se ao céu, os pastores disseram entre si: «Vamos já a Belém e vejamos o que o Senhor nos deu a conhecer.»
Foram apressadamente, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoira. Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino, e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as suas palavras.
Maria, contudo, observava cuidadosamente todos estes acontecimentos e meditava-os no seu coração.
Os pastores voltaram, glorificando e louvando Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito.
Circuncisão de Jesus
Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo, antes de ser concebido.
Apresentação de Jesus no Templo
Quando se completaram os dias para a purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram Jesus a Jerusalém com a finalidade de o apresentar ao Senhor, conforme está escrito na Lei: “Todo o homem que nasce do útero será consagrado ao Senhor.”
Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão que era justo e piedoso. Esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte antes de ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito, ele foi ao Templo, e quando os pais acompanharam Jesus para cumprir as prescrições da Lei a seu respeito, ele tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:
«Agora, Soberano Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meus olhos viram a salvação, que preparaste em face de todos os povos, luz para iluminar as nações, e glória de teu povo, Israel.»
Profecia de Simeão
Maria e José estavam admirados com o que diziam de Jesus.
Simeão abençoou-os e disse a Maria: «Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição, e a ti uma espada trespassará tua alma, para que se revelem os pensamentos íntimos de muitos corações.»
Profecia de Ana
Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Após a virgindade, vivera sete anos com o marido. Ficou viúva e chegou aos oitenta e quatro anos. Não deixava o Templo, servindo Deus dia e noite com jejuns e orações. Como chegasse nessa mesma hora, agradecia a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
MATEUS 2
A visita dos reis magos
Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: «Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos surgir a sua estrela no céu e viemos adorá-lo.»
Ouvindo isso, Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E convocando os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Responderam-lhe: «Em Belém da Judeia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: “Tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo.”»
Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se junto deles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e procurai obter informações exactas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que também eu o vá adorar.»
A essas palavras do rei, partiram. E eis que a estrela que tinham visto surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Vendo a estrela, alegraram-se.
Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, adoraram-no. Em seguida, abriram os cofres que levavam consigo e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.
Avisados em sonho que não voltassem para junto de Herodes, regressaram por outro caminho para a região onde viviam.
Fuga para o Egipto
Após a sua partida, eis que o Anjo do Senhor se manifestou em sonho a José e disse: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egipto. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.»
José levantou-se, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egipto. Ali ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor por intermédio do profeta: “Do Egipto chamei o meu filho.”
Massacre dos inocentes
Então Herodes, percebendo que fora enganado pelos magos, ficou tão irritado que mandou matar, em Belém e em todo seu território, todos os meninos com menos de dois anos, em conformidade com as informações temporais dos magos.
Cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação. Raquel chora os seus filhos e não quer que a consolem, porque eles já não existem.”
Retorno do Egipto e estabelecimento em Nazaré
Fouquet
Quando Herodes morreu, o Anjo do Senhor manifestou-se em sonho a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe e vai para a terra de Israel, pois os que queriam matar o menino já morreram.»
José levantou-se, tomou o menino nos braços e com Maria entrou na terra de Israel. Mas, ouvindo que Arquelau era rei da Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo e não foi para lá. Recebendo um aviso em sonho, partiu para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno.”
E Jesus crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele.
Bouguereau
Jesus entre os doutores
José e Maria iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, segundo o costume, foram para a festa. Terminada que foi, eles voltaram, mas o menino ficou em Jerusalém, sem que seus pais disso tivessem dado conta, pensando que estivesse na caravana. Depois de terem percorrido o caminho de um dia, puseram-se a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura. Três dias depois, encontraram-no no Templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam ficavam extasiados com a sua inteligência e com suas respostas. Ao vê-lo, ficaram surpreendidos, e Maria disse-lhe: «Meu filho, por que agiste assim connosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, procurámos-te por toda a parte.»
Jesus respondeu: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?» Eles, porém, não compreenderam o que Jesus lhes disse.
Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses factos no seu coração.
Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens.
MATEUS 3
Pregação de João Batista
Por aqueles dias, apareceu João Baptista pregando no deserto da Judeia, dizendo: «Arrependei-vos, pois que está próximo o Reino dos Céus.»
Foi de João que falou o profeta Isaías, ao dizer: “Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, tornai rectas as suas veredas.”
João usava uma roupa de pêlos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins. O seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre. Então vieram até ele de Jerusalém, toda a Judeia e toda a região vizinha ao Jordão. E eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
Como visse muitos fariseus e saduceus que vinham ao baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, então, fruto digno de arrependimento e não penseis que basta dizer: “Temos por pai a Abraão.” Pois eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores e toda a árvore que não produzir bom fruto será cortada e lançada ao fogo.
Eu baptizo-vos com água para o arrependimento, mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu. De facto, eu não sou digno sequer de lhe atar as sandálias. Ele irá baptizar-vos com o Espírito Santo e com o fogo. A pá está na sua mão: vai limpar a sua eira e recolher o seu trigo no celeiro: mas, quanto à palha, vai queimá-la num fogo inextinguível.»
Baptismo de Jesus
Perugino
Nesse tempo, veio Jesus da Galileia ao Jordão até João, a fim de ser baptizado por ele. Mas João tentava dissuadi-lo, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti e tu vens a mim?»
Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém, para que a justiça seja cumprida.»
E João consentiu.
Baptizado, Jesus subiu imediatamente da água e logo os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e descendo sobre ele.
Ao mesmo tempo, uma voz vinda dos céus dizia: «Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.»
MATEUS 4
Tentação no deserto
Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo.
Jejuou por quarenta dias e quarenta noites. Depois teve fome.
O diabo, aproximando-se, disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.» Ao que Jesus respondeu: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.»
Então o diabo levou-o à Cidade Santa e colocou-o sobre o pináculo do Templo dizendo-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui para baixo, porque está escrito: Ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles irão tomar-te pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.» Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus.»
Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com todo o seu esplendor e disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» Jesus disse-lhe: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto.»
Perante isto, o diabo deixou-o. E os anjos de Deus aproximaram-se e serviram-no.
MARCOS 1
Jesus inicia a sua pregação
Depois da prisão de João, veio Jesus para a Galileia proclamando a boa-nova de Deus: «Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai na boa-nova.»
Vocação dos quatro primeiros discípulos
Jesus caminhava junto ao mar da Galileia e viu Simão e André, o irmão de Simão. Lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde, segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens.»
Imediatamente, deixando as redes, eles seguiram-no.
Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, também eles no barco, consertando as redes. E logo os chamou. E eles, deixando o pai Zebedeu no barco com os outros pescadores, partiram seguindo-o.
JOÃO 2
Bodas de Caná
Murillo
Em Caná da Galileia realizava-se uma boda e a mãe de Jesus estava lá, bem como Jesus e os seus discípulos. E, faltando o vinho, Maria disse a Jesus: «Não têm vinho.» Ao que Jesus respondeu: «O que é que isso tem a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.»
Mas Maria disse aos criados: «Fazei tudo o que ele vos disser.»
Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus disse-lhes: «Enchei as talhas de água.» Eles encheram-nas até à borda. Então disse-lhes: «Tirai agora o líquido e levai-o ao mestre-sala.» Eles levaram-no. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho, não sabendo, como sabiam os criados de onde vinha, chamou o noivo e disse-lhe: «Todo homem serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!»
Este princípio dos sinais, aconteceu em Caná da Galileia, onde Jesus manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele. Depois disso, desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, e ali ficaram por alguns dias.
JOÃO 2
Estadia em Jerusalém
Enquanto estava em Jerusalém, para a festa da Páscoa, vendo os sinais que fazia, muitos acreditaram em seu nome.
Mas Jesus não tinha confiança neles, porque os conhecia a todos e não necessitava que lhe dessem testemunho sobre o homem, porque ele conhecia a natureza do homem.
JOÃO 3
O encontro com Nicodemos
Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus.
À noite veio encontrar-se com Jesus e disse-lhe: «Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele.»
Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus.»
Disse-lhe Nicodemos: «Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio da sua mãe e nascer?»
Respondeu-lhe Jesus: «Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu rumor, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.»
Volveu Nicodemos: «Como pode isso acontecer?»
Jesus respondeu-lhe: «És o mestre de Israel e ignoras estas coisas? Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, porém não acolheis o nosso testemunho. Se não credes quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando vos falar das coisas do céu? Ninguém subiu ao céu a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que creia tenha nele vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna. Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê nele não será julgado; quem não crê, já está julgado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus. Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque eram más as suas obras. Pois quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que as suas obras são feitas em Deus.»
Depois disso, Jesus veio com os seus discípulos para o território da Judeia e ali permaneceu com eles e baptizava os que o ouviam e nele acreditavam.
JOÃO 4
Jesus e a Samaritana
Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e baptizava mais que João Baptista, ainda que, de facto, Jesus mesmo não baptizasse, mas os seus discípulos, deixou a Judeia e retornou à Galileia.
Era preciso passar pela Samaria. Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacob tinha doado a seu filho José. Ali se encontrava a fonte de Jacob. Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora sexta.
Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus disse-lhe: «Dá-me de beber!» Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Diz-lhe a samaritana: «Como, sendo tu judeu, me pedes de beber, a mim que sou samaritana?»
Carracci
Jesus respondeu-lhe: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz, “dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!»
Ela disse-lhe: «Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva? És, porventura, maior que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais?»
Jesus respondeu-lhe: «Aquele que bebe desta água terá sede novamente, mas quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna.»
Disse-lhe a mulher: «Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir mais aqui para a tirar!»
Jesus disse: «Vai, chama o teu marido e volta aqui.», ao que a mulher lhe respondeu: «Não tenho marido.»
Jesus disse-lhe: «Falaste bem: “não tenho marido”, pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido. Nisto falaste verdade.»
Então a mulher samaritana disse a Jesus: «Senhor, vejo que és um profeta. 0s nossos pais adoraram Deus sobre esta montanha. Mas vós dizeis que é em Jerusalém que está o lugar onde se deve adorar.»
Diz-lhe Jesus: «Crê em mim mulher. Está a chegar a hora em que nem sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está a chegar a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.»
Diz-lhe a mulher: «Sei que vem um Messias, que é chamado Cristo. Quando ele vier, comunicar-nos-á todas as coisas.»
Disse-lhe Jesus: «Sou eu, que contigo falo.»
Naquele instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se porque ele falava com uma mulher. Mas nenhum deles, porém, lhe perguntou: «Que procuras?» ou «de que estás a falar com ela?»
A mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade, dizendo a todos: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não será ele o Cristo?» Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro.
Enquanto isso, os discípulos rogavam-lhe: «Mestre, come!» Ele, porém, disse-lhes: «Tenho para comer um alimento que não conheceis.» Os discípulos perguntavam-se uns aos outros: «Por acaso alguém lhe terá trazido algo para comer?»
Jesus disse-lhes: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra. Não dizeis vós: “Mais quatro meses e chegará a ceifa?” Pois bem, eu vos digo: «Erguei vossos olhos e vede os campos: estão brancos para a colheita. Já o ceifeiro recebe o seu salário e recolhe o fruto para a vida eterna, para que o semeador se alegre juntamente com o ceifeiro. Aqui, pois, se verifica o provérbio: “Um é o semeador, outro o ceifeiro.” Eu enviei-vos para ceifar onde não trabalhastes; outros trabalharam e vós entrastes no trabalho deles.»
Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher que dele dava testemunho: «Ele disse-me tudo o que fiz!» Por isso, os samaritanos vieram até Jesus, pedindo-lhe que permanecesse com eles. E ele ficou ali dois dias. Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: «Já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo.»
Jesus na Galileia
Passados aqueles dois dias, partiu da Samaria para a Galileia.
MARCOS 2
Cura de um paralítico
Entrando de novo em Cafarnaum, e depois de alguns dias, souberam que Jesus estava em casa. E tantos foram os que se aglomeraram, que já não havia lugar disponível nem à porta. Jesus anunciava-lhes a Palavra.
Nisto, trouxeram-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. E como não pudessem aproximar-se por causa da multidão, abriram o tecto à altura do lugar onde Jesus se encontrava e, tendo feito um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico. Jesus, vendo a sua fé, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão-te perdoados.»
Ora, alguns dos escribas que lá estavam sentados reflectiam em seus corações: “Qual o motivo por que fala assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados a não ser Deus?” Jesus entendeu de imediato no seu espírito o que pensavam em seu íntimo, e disse: «Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil dizer ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados”, ou dizer: “Levanta-te, toma o teu leito e anda?” Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem o poder de perdoar pecados na terra, eu te ordeno, disse ao paralítico, levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa.»
O paralítico levantou-se e, imediatamente, carregando o leito, saiu diante de todos, de sorte que ficaram admirados e glorificaram a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa igual!»
MATEUS 9
Chamamento de Mateus
Indo adiante, viu Jesus um homem chamado Mateus, sentado na colectoria de impostos, e disse-lhe: «Segue-me.» Este, levantando-se, seguiu-o.
Refeição com os pecadores
Aconteceu que estando ele à mesa em casa, vieram muitos publicanos e pecadores que se sentaram nela com Jesus e com os seus discípulos.
Os fariseus, vendo-o, perguntaram aos discípulos: «Porque come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?» Ele, ao ouvir o que diziam, respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia é o que eu quero, e não sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»
MARCOS 2
As espigas arrancadas
Ocorreu que, ao passar num sábado por uma plantação, os seus discípulos começaram a abrir caminho arrancando espigas. Os fariseus disseram-lhe: «Vê! Como eles fazem o que não é permitido fazer ao sábado?» Jesus respondeu-lhes: «Nunca lestes o que fez David e seus companheiros quando necessitavam e tiveram fome, e como entrou na casa de Deus, no tempo do Sumo-sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da proposição, que só os sacerdotes podem comer, e os deu também aos companheiros?» E dizia-lhes: «O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. De modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado.»
MARCOS 3
Cura do homem com a mão atrofiada
Jesus entrou de novo na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. Observavam-no para ver se o curaria no sábado, para o poderem acusar. Jesus disse ao homem da mão atrofiada: «Levanta-te e vem aqui para o meio.»
E perguntou-lhes: «É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?» Eles, porém, calavam-se, mas com um olhar de indignação que trocavam entre eles.
Jesus, entristecido pela sua dureza de coração, disse ao homem: «Estende a mão.» Ele estendeu-a, e ficou curada. Quando se retiraram os fariseus e os herodianos, começaram a conspirar contra Jesus.
Jesus retirou-se com os seus discípulos a caminho do mar, e uma grande multidão vinha da Galileia seguindo-o.
LUCAS 6
Escolha dos Doze
Sinaxário dos Doze Apóstolos – Moscovo
Naqueles dias, Jesus foi até a uma montanha para orar, tendo passado toda a noite em oração. Depois do amanhecer, chamou os discípulos e dentre eles escolheu doze, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem impôs o nome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado Zelota, Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariote, que se tornou um traidor.
MATEUS 5
O sermão da montanha - As bem-aventuranças
Bloch
Vendo ele a multidão, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós.»
Sal da terra e luz do mundo
Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Não servirá para mais nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão na casa. Que brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
MATEUS 5
O maior mandamento
Disse Jesus: «Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.” Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Desse modo tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz igualmente nascer o sol para os que são maus e para os que são bons e faz com que a chuva caia sobre justos e injustos.
Com efeito, se amais os que vos amam, que recompensa tendes? Não o fazem também os publicanos? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem também os gentios a mesma coisa? Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.»
MATEUS 6
O verdadeiro tesouro
Jesus disse: «Não junteis tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas juntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho os corroem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde está o teu tesouro aí estará também o teu coração.»
O olho é a lâmpada do corpo
Disse Jesus: «A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho estiver são, todo o teu corpo ficará iluminado. Mas se o teu olho estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro. Pois se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!»
Deus e o Dinheiro
Palavras de Jesus: «Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»
Abandonar-se à Providência
Digo-vos: «Não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa?
Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem juntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas?
Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida?
E com a roupa, por que andais preocupados? Aprendei com os lírios do campo, como crescem, e não trabalham e não fiam. No entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao fogo, não fará ele muito mais por vós, homens fracos na fé?
Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? De facto, são os gentios que estão à procura de tudo isso. O vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas.
Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.
Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu afã.»
LUCAS 7
Cura do servo de um centurião
Quando acabou de transmitir ao povo todas estas palavras, entrou em Cafarnaum.
Ora, um centurião tinha um servo a quem muito prezava, e que estava doente, à morte. Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns dos anciãos dos judeus para lhe pedir que o fosse salvar. Estes, chegando junto de Jesus, rogavam-lhe insistentemente: «Ele é digno que lhe concedas o que te pede, pois ama a nossa nação, e até nos construiu a sinagoga.»
Jesus foi com eles. Não estava longe da casa, quando o centurião mandou alguns amigos dizerem-lhe: «Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres na minha casa, nem mesmo me achei digno de vir ao teu encontro. Diz, porém, uma palavra, para que o meu servo seja curado. Pois também eu estou sob uma autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e a um digo “Vai!” e ele vai; e a outro “Vem!” e ele vem; e a meu servo “Faz isto!” e ele o faz.»
Ao ouvir estas palavras, Jesus ficou maravilhado e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: «Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.»
Ao voltarem para casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.
LUCAS 7
Ressurreição do filho da viúva de Naim
Jesus foi em seguida a uma cidade chamada Naim. Os seus discípulos e uma numerosa multidão caminhavam com ele. Ao aproximar-se da porta da cidade, coincidiu que levavam a sepultar um homem, filho único de mãe viúva. Uma multidão da cidade estava com ela.
O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe: «Não chores!» Depois, aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam.
Disse então Jesus: «Jovem, eu ordeno que te levantes!» E o defunto sentou-se e começou a falar. Ficaram todos os presentes cheios de temor e glorificavam Deus, dizendo: «Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo.»
E esta notícia difundiu-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza.
Pergunta de João Baptista e testemunho que lhe presta Jesus
Os discípulos de João Baptista informaram-no de tudo isto. João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor, perguntando: «És tu aquele que há-de vir ou devemos esperar um outro?» Os homens, chegando junto dele, disseram: «João Baptista mandou-nos perguntar: «És aquele que há-de vir ou devemos esperar um outro?»
Nesse momento, ele curou muitos homens de doenças, de múltiplas enfermidades, de espíritos malignos, e restituiu a visão a inúmeros cegos.
Então respondeu-lhes: «Ide contar a João o que estais a ver e a ouvir: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho. E feliz é aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!»
MARCOS 4
Parábola do semeador
Jesus começou de novo a ensinar junto ao mar. Veio até Ele uma multidão numerosa, de modo que subiu e se sentou num barco que estava no mar, estando todo o povo em terra, à beira-mar.
Ensinava-lhes muitas coisas por meio de parábolas. E dizia-lhes no seu ensinamento: «Escutai: Eis que o semeador saiu a semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram-na.
Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra bastante, nasceu logo, porque não havia terra profunda, mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou.
Outra parte caiu entre os espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram-na, e não deu fruto. Outras caíram em terra boa e produziram frutos, desenvolvendo-se. Uma produziu trinta, outra sessenta e outra cem.»
Dizia Jesus: «Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.»
O motivo de Jesus falar por parábolas
Quando ficaram sozinhos, os que estavam junto dele com os doze interrogaram-no sobre as parábolas.
Dizia-lhes Jesus: «A vós foi-vos concedido o entendimento do mistério do Reino de Deus; aos de fora, porém, tudo será dado em parábolas, a fim de que vendo, vejam e não percebam, e ouvindo, ouçam e não entendam. Para que não se convertam e não sejam perdoados.»
Explicação da parábola do semeador
Jesus disse-lhes: «Se não compreendeis esta parábola, como podereis entender todas as parábolas?
O semeador semeia a Palavra. Os que estão à beira do caminho onde a Palavra foi semeada são aqueles que ouvem, mas logo vem Satanás e arrebata a Palavra que neles foi semeada.
Assim também as que foram semeadas em solo pedregoso: São aqueles que, ao ouvirem a Palavra, imediatamente a recebem com alegria, mas não têm raízes em si mesmos, são homens de momento. Caso surja uma tribulação ou uma perseguição por causa da Palavra, imediatamente sucumbem.
E outras são as que foram semeadas entre os espinhos: Estes são os que ouviram a Palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução da riqueza e as ambições de outras coisas penetram-nos, sufocam a Palavra e tornam-na infrutífera.
Mas há as que foram semeadas em terra boa: Estes escutam a Palavra, acolhem-na e dão frutos, um trinta, outro sessenta, outro cem.»
MATEUS 13
Parábolas do tesouro e da pérola
Disse Jesus: «O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo. Um homem encontra-o e torna-o a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo.
O Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas valiosas. Ao encontrar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e compra-a.»
MARCOS 4
Parábola da semente que germina por si só
Dizia Jesus: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra: Esse homem dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra por si mesma produz fruto: Primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, a espiga cheia de grãos. Quando o fruto está maduro, lança-lhe imediatamente a foice, porque o tempo da colheita chegou.»
Parábola do grão de mostarda
Jesus disse: «Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com que parábola vo-lo apresentaremos? É como um grão de mostarda, o qual, quando é semeado na terra, sendo a menor de todas as sementes da terra, cresce e torna-se maior que todas as verduras das hortas, e deita ramos, a tal ponto que as aves do céu se abrigam à sua sombra.»
Conclusão sobre as parábolas
Anunciava-lhes a Palavra por meio de muitas parábolas como estas, em conformidade com o seu entendimento. Nada lhes falava a não ser em parábolas.
A seus discípulos, porém, tudo explicava em privado.
MARCOS 4
A tempestade acalmada
Rembrandt
Disse-lhes Jesus naquele dia, ao cair da tarde: «Passemos para a outra margem.»
Sobreveio então uma tempestade de vento rijo, e as ondas caíam dentro do barco, e o barco ia-se inundando. Jesus estava na popa, dormindo sobre um travesseiro. Acordaram-no, dizendo: «Mestre, não te importa que aqui percamos a nossa vida?»
Levantando-se, Jesus insurgiu-se severamente contra o vento e disse ao mar: «Silêncio! Quieto!» O vento serenou, e houve grande bonança. Depois perguntou: «De que tendes medo? Ainda não tendes fé?»
Então ficaram receosos e diziam uns aos outros: «Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem?»
MARCOS 5
O endemoninhado geraseno
Chegaram do outro lado do mar, à região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, caminhou ao seu encontro, vindo dos túmulos, um homem possuído por um espírito impuro.
Habitava no meio das tumbas e ninguém o podia dominar, nem mesmo com correntes. Muitas vezes já o haviam prendido com grilhões e algemas, mas ele quebrava os grilhões e destruía as correntes, sem que o conseguissem subjugar. E, sem descanso, noite e dia, deambulava pelos sepulcros e pelas montanhas, dando gritos e ferindo-se com pedras.
Ao ver Jesus, de longe, correu e prostrou-se diante dele, clamando em alta voz: «Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes!»
Disse Jesus: «Sai deste homem, espírito impuro!» E perguntando-lhe: «Qual é o teu nome?», obteve uma temível resposta: «Legião é o meu nome, porque, somos muitos.»
O endemoninhado pedia-lhe com insistência que não os mandasse para fora daquela região. Ora, havia ali, pastando na montanha, uma grande manada de porcos. Rogava-lhe, então, dizendo: «Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles.» Jesus permitiu-o. E os espíritos impuros saíram, entraram nos porcos, e a manada, cerca de dois mil, arrojou-se ao mar afogando-se.
Os que os apascentavam fugiram e contaram o facto na cidade e nos campos. E muitos acorreram para ver o que havia acontecido. Foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e em seu juízo perfeito, aquele que era o mesmo que tivera a legião. E ficaram apavorados. As testemunhas contaram-lhes o que acontecera com o endemoninhado e com os porcos.
Começaram então a pedir-lhe que se afastasse das suas terras. Quando entrou no barco, aquele que fora endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar na sua companhia. Jesus não acedeu ao seu pedido e disse-lhe: «Vai para tua casa e para os teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor na sua misericórdia por ti fez.»
Então partiu e começou a proclamar na Decápole o quanto Jesus fizera por ele. E ficaram todos estarrecidos.
MARCOS 5
Cura da hemorroíssa
De novo, Jesus atravessou de barco para a outra margem. Uma multidão cercou-o e ele deteve-se à beira-mar. Aproximou-se um dos chefes da sinagoga, cujo nome era Jairo, e vendo-o, prostrou-se aos seus pés. Pediu-lhe insistentemente, dizendo: «Minha filha está a morrer. Vem e impõe sobre ela as tuas mãos, para que ela seja salva e viva.»
Jesus acompanhou-o e uma multidão seguia-o, apertando-o por todos os lados. Ora, certa mulher que havia doze anos tinha um fluxo de sangue e muito padecera às mãos de vários médicos, tendo gasto tudo o que possuía sem nenhum resultado, mas piorando cada vez mais, tinha ouvido falar de Jesus. Aproximou-se dele, por trás, no meio da multidão, e tocou-lhe as vestes. Porque para si dizia: “Se ao menos tocar as suas vestes, serei salva.” E logo a hemorragia estancou. E sentiu no seu corpo que estava curada da enfermidade que a atormentava há doze anos. Imediatamente, Jesus, tendo consciência da força que dele saíra, voltou-se para a multidão dizendo: «Quem tocou nas minhas vestes?» Os discípulos disseram-lhe: «Estás a ver a multidão que te comprime e perguntas: “Quem me tocou?” Jesus olhava em redor de si para ver quem o havia tocado. Então a mulher, amedrontada e trémula, sabendo o que lhe tinha sucedido, aproximou-se e caiu-lhe aos pés contando-lhe toda a verdade. Jesus disse-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica curada desse teu mal.»
Ressurreição da filha de Jairo
Jacomb-Hood
Ainda falava, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, dizendo: «Tua filha morreu. Por que motivo ainda perturbas o Mestre?» Jesus, porém, tendo ouvido a palavra que acabava de ser pronunciada, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas, crê somente.» E não permitiu que ninguém o acompanhasse, excepto Pedro, Tiago e João, o irmão de Tiago. Chegados à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu que estava tudo num grande alvoroço. Muita gente chorava e clamava em voz alta. Entrando na casa, disse: «Por que este alvoroço e este pranto? A criança não morreu; está a dormir.»
Alguns troçavam dele. Jesus, porém, ordenou que saíssem todos, excepto o pai e a mãe da criança e os que o acompanhavam, e com eles entrou no aposento onde se encontrava a criança. Tomando a mão da menina, disse-lhe: «Menina, eu te ordeno, levanta-te.» No mesmo instante, a criança levantou-se e andava, pois já tinha doze anos. Todos ficaram extremamente espantados. Recomendou-lhes então expressamente que ninguém viesse a saber o que tinham visto. E mandou que dessem de comer à menina.
LUCAS 4
Jesus rejeitado em Nazaré
Jesus foi para Nazaré, onde fora criado, e, segundo o costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abrindo-o, encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor.”
Enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga o olhavam, atentos. Então começou a dizer-lhes: «Hoje cumpriram-se as escrituras aos vossos ouvidos nesta passagem da Escritura.»
Todos testemunhavam a seu respeito, admirando-se das palavras cheias de graça que saíam da sua boca. E diziam: «Não é o filho de José?»
Jesus disse: «Certamente ireis citar-me o provérbio: “Médico, cura-te a ti mesmo.” “E tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra.”»
Mas em seguida acrescentou: «Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. De facto, digo-vos que havia em Israel muitas viúvas nos dias de Elias, quando por três anos e seis meses o céu permaneceu fechado e uma grande fome devastou toda a região. Elias, no entanto, não foi enviado a nenhuma delas, excepto a uma viúva, em Sarepta, na região de Sídon. Havia igualmente muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu; todavia, nenhum deles foi purificado, a não ser o sírio Naimán.»
Perante estas palavras, enfureceram-se todos os que estavam na sinagoga. E, levantando-se, expulsaram-no da cidade conduzindo-o até ao cimo de uma colina sobre a qual a cidade estava construída, com a intenção de o precipitar para baixo. Jesus, porém, passando pelo meio deles, prosseguiu o seu caminho.
MARCOS 6
Herodes e Jesus
O rei Herodes ouviu falar de Jesus. Com efeito, o seu nome tornou-se célebre, e diziam: «João Baptista foi ressuscitado dos mortos, e por isso os poderes operam através dele.» Já outros diziam: «É Elias.» E outros ainda: «É um profeta como um dos outros profetas.»
Herodes, ouvindo todas estas coisas, dizia: «João, que eu mandei decapitar, ressuscitou.»
Execução de João Baptista
Herodes mandara prender João, acorrentando-o no cárcere, por causa de Herodíade, a mulher de seu irmão Filipe, pois ele desposara-a e, na ocasião, João dissera a Herodes: «Não é lícito que possuas a mulher de teu irmão.»
Herodíade tinha um enorme rancor contra ele e queria matá-lo, mas não podia, pois Herodes tinha medo de João e, sabendo que ele era um homem justo e santo, protegia-o. E quando o ouvia, ficava muito confuso e escutava-o com prazer.
Chegando um dia propício, o do aniversário de Herodes, este ofereceu um banquete aos grandes da sua corte, aos quiliarcas e às grandes personalidades da Galileia.
Herodíade - Delaroche
A filha de Herodíade entrou e dançou. E agradou a Herodes e aos convivas. Então o rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres, e eu to darei.» Herodes jurou: «Qualquer coisa que me pedires eu te darei, até metade do meu reino!»
Ela saiu e perguntou à mãe: «O que é que eu peço?» e ela respondeu-lhe: «Pede-lhe a cabeça de João Baptista.»
Voltando logo, apressadamente, à presença do rei, fez o pedido: «Quero que, agora mesmo, me dês num prato a cabeça de João Baptista.» O rei ficou profundamente triste. Mas, por causa do juramento que fizera e dos convivas, não quis deixar de cumprir a promessa feita.
E imediatamente o rei enviou um executor, com ordens de trazer a cabeça de João. Saindo o executor, decapitou-o na prisão. E trouxe a sua cabeça num prato. Deu-a à jovem, e esta entregou-a à sua mãe.
Os discípulos de João sabendo-o, foram ao palácio, reclamaram o corpo e colocaram-no num túmulo.
JOÃO 6
A multiplicação dos pães
Depois destes acontecimentos, Jesus passou para a outra margem do lago galileu de Tiberíade. Uma grande multidão seguia-o, porque tinha visto os sinais que realizava nos doentes. Subiu, então, Jesus à montanha e aí se sentou com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
Levantando Jesus os olhos e vendo a multidão que a ele acorria, disse a Filipe: «Onde compraremos pão para que comam?» Falava assim para o pôr à prova, porque bem sabia o que iria fazer. Respondeu-lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço.»
Um dos seus discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse-lhe: «Há aqui um menino, que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tantas pessoas?»
Disse Jesus: «Fazei com que se acomodem.»
Havia muita erva naquele lugar. Sentaram-se, pois, os homens, em número de cinco mil aproximadamente. Tomou, então, Jesus os pães e, depois de dar graças, distribuiu-os aos presentes, assim como os peixes, tanto quanto queriam.
Quando se saciaram, disse Jesus aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca.» E os discípulos recolheram os restos, enchendo doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada deixados pelos que se alimentaram.
Vendo o sinal feito por Jesus, exclamavam: «Este é, verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo!»
MATEUS 14
Jesus caminha sobre as águas
Varint
Logo em seguida, ordenou que os discípulos embarcassem e aguardassem por ele na outra margem, até que despedisse as multidões. Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós.
Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho. O barco, porém, já estava a uma distância de muitos estádios da terra, agitado pelas ondas, pois o vento era contrário.
Na quarta vigília da noite, dirigiu-se para junto dos discípulos, caminhando sobre o mar. Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: «É um fantasma!» E gritaram de medo.
Mas Jesus disse-lhes: «Tende confiança, sou eu, não tenhais medo.»
Pedro, interpelando-o, disse: «Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas.» Jesus respondeu-lhe: «Vem.» Descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas e foi ao encontro de Jesus. Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar-se, gritou: «Senhor, salva-me!» Jesus estendeu prontamente a mão e segurou-o, repreendendo-o: «Homem de pouca fé, por que duvidaste?»
Assim que subiram ao barco, o vento amainou. Os que estavam no barco prostraram-se diante dele dizendo: «Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!»
JOÃO 6
Discurso em Cafarnaum
No dia seguinte, a multidão que permanecera no outro lado do mar percebeu que havia aí um único barco e que Jesus não havia entrado nele com os seus discípulos. Os discípulos haviam partido sozinhos. Outros barcos chegaram de Tiberíade, perto do lugar onde tinham comido o pão e os peixes. Quando a multidão viu que Jesus ali não estava, nem os seus discípulos, subiu aos barcos e foi para Cafarnaum, à sua procura.
Encontrando-o do outro lado do mar, disseram-lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?» Respondeu-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna, alimento que o Filho do Homem vos dará, pois Deus, o Pai, o marcou com o seu selo.»
Disseram-lhe, então: «Que faremos para trabalhar nas obras de Deus?» Respondeu-lhes Jesus: "A obra de Deus é que creiais naquele que Deus enviou.»
Então perguntaram-lhe: «Que sinal realizas para que vejamos e creiamos em ti? Que obra fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu a comer.”»
Jesus disse: «Em verdade, em verdade, vos digo: Não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.» Disseram-lhe: «Senhor, dá-nos sempre deste pão!»
Jesus disse-lhes: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede. Eu, porém, disse-vos: vós vedes-me, mas não credes. Todo aquele que o Pai, me der virá a mim, e quem vem a mim eu não o rejeitarei, pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nada do que ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.»
MATEUS 15
Cura da filha de uma mulher cananeia
Jesus, partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sídon.
Eis que uma mulher cananeia, daquela região, veio e gritava: «Senhor, filho de David, tem compaixão de mim. A minha filha está horrivelmente endemoninhada.» Jesus, porém, nada lhe disse. Então os seus discípulos abeiraram-se dele e pediram-lhe: «Manda-a embora, porque vem a gritar atrás de nós.»
Jesus disse: «Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.»
Mas ela, aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a suplicar: «Senhor, socorre-me!»
Jesus tornou a responder: «Não é justo tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cães.»
A mulher cananeia insistiu: «Isso é verdade, Senhor, mas os cães também comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!»
Pela sua resposta, Jesus disse-lhe: «Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!» E a partir daquele momento a filha ficou sarada.
LUCAS 9
Profissão de fé de Pedro
Certo dia, orava Jesus em privado cercado dos discípulos, aos quais perguntou: «Quem sou eu, no dizer das multidões?»
Eles responderam: «João Baptista; para outros, Elias; para outros, porém, um dos antigos profetas que ressuscitou.»
Jesus retorquiu: «E vós quem dizeis que eu sou?» Pedro respondeu: «O Cristo de Deus.»
Jesus proibiu-os com severidade de o anunciar a quem quer que fosse.
Primeiro anúncio da paixão
Jesus disse: «É necessário que o Filho do Homem muito sofra, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia.»
Condições para seguir Jesus
Disse Jesus: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, esse irá salvar-se.
Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele se perder ou se se arruinar a si mesmo? Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem envergonhar-se-á dele, quando vier em toda a sua glória e na do Pai e dos santos anjos.»
A vinda próxima do Reino
Disse Jesus: «Eu digo-vos, com verdade, que alguns dos que aqui estão presentes não experimentarão a morte até que contemplem o Reino de Deus.»
MATEUS 17
A transfiguração
Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, para um lugar recôndito da montanha, ali se transfigurando diante deles.
O seu rosto refulgiu como o sol e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias conversando com Jesus.
Então Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: «Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.» Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz, que saía da nuvem, disse: «Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o!»
Os discípulos, ouvindo a voz, amedrontados, caíram com o rosto no chão. Jesus chegou perto deles e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não tenhais medo.» E erguendo os olhos, não viram ninguém: Jesus estava sozinho.
Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: «Não conteis a ninguém esta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.»
MARCOS 9
O epilético endemoninhado
Chegando junto dos outros discípulos, viram uma grande multidão em torno deles, e os escribas que com eles discutiam. E logo que a multidão viu Jesus, correu para o saudar.
Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis com eles?» Alguém da multidão respondeu: «Mestre, eu trouxe comigo meu filho que tem um espírito mudo. Quando é possuído, ele arroja-o pelo chão, espuma, range os dentes e fica abrasado. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas não conseguiram”.
Jesus respondeu: «Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-o até mim.» Levaram-no e o espírito, vendo Jesus, imediatamente agitou com violência o menino que, caindo por terra, rebolava espumando.
Jesus perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu o pai da criança: «Desde pequenino. E muitas vezes atira-o ao fogo ou para a água, com intenção de que morra. Mas se tu podes, ajuda-nos, tem compaixão de nós.»
Jesus disse-lhe: «Se tu podes! Tudo é possível àquele que crê!»
Imediatamente, o pai do menino gritou: «Eu creio! Auxilia-me na minha incredulidade!»
Vendo Jesus que a multidão chegava, conjurou severamente o espírito impuro, dizendo-lhe: «Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: deixa o menino e nunca mais entres nele!» Gritando e agitando-o violentamente, o espírito impuro saiu da criança. O menino ficou como se estivesse morto, de modo que muitos diziam que ele tinha morrido. Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o, e ele levantou-se.
Ao entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em segredo: «Por que não pudemos expulsá-lo?» Jesus respondeu: «Esta casta de espírito não pode sair a não ser com oração.»
Segundo anúncio da paixão
Tendo partido dali, caminhava através da Galileia, mas não queria que ninguém soubesse, pois ensinava os seus discípulos dizendo-lhes: «O Filho do Homem é entregue às mãos dos homens que o hão-de matar e, morto, depois de três dias ressuscitará.»
Os discípulos, não compreendendo o significado da palavra, tinham medo de o interrogar.
MATEUS 18
Quem é o maior no Reino dos Céus?
Nessa ocasião, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino dos Céus?»
Ele chamou para junto de si uma criança, colocou-a no meio deles e disse: «Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus.
O escândalo
E aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe-me a mim. Caso alguém escandalize um destes pequeninos que creem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar.
Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem! Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou aleijado para a Vida do que, tendo duas mãos ou dois pés, sejas atirado ao fogo eterno.
E se o teu olho te escandaliza, arranca-o e atira-o para longe de ti. Melhor é que entres com um olho só para a Vida do que, tendo dois olhos, sejas atirado no inferno de fogo.
Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus.»
MATEUS 18
Perdão das ofensas
Então Pedro abeirando-se dele, perguntou-lhe: «Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que contra mim pecar? Até sete vezes?» Jesus respondeu-lhe: «Não te digo até sete, mas até setenta e sete vezes.»
Parábola do devedor implacável
Jesus disse: «Eis porque o Reino dos Céus é semelhante a um rei que resolveu acertar contas com os seus servos.
Ao começar o acerto, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos. Não tendo este com que pagar, o senhor ordenou que o vendessem, juntamente com a mulher e com os filhos e todos os seus bens, para o pagamento da dívida. O servo, porém, caiu aos seus pés e, prostrado, suplicava-lhe: «Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo.» Diante disso, o senhor, compadecendo-se do servo, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
Mas quando saiu dali, esse servo encontrou um dos seus companheiros de servidão, que lhe devia cem denários e, agarrando-o pelo pescoço, pôs-se a sufocá-lo e a insistir: «Paga-me o que me deves.» O companheiro, caindo a seus pés, rogava-lhe: «Dá-me um prazo e eu te pagarei.» Mas ele não o quis ouvir; retirou-se e mandou que o lançassem na prisão até que pagasse tudo o que lhe devia.
Os seus companheiros de servidão, vendo o que acontecera, ficaram magoados e, procurando o senhor, contaram-lhe todo o acontecido. Então o senhor mandou chamar aquele servo e disse-lhe: «Servo mau, eu perdoei-te toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias, também tu, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?»
Assim, encolerizado, o seu senhor entregou-o aos verdugos, até que pagasse toda a sua dívida. Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão.
MATEUS 19
Quando Jesus terminou estas palavras, partiu da Galileia e foi para o território da Judeia, além do Jordão. Acompanharam-no grandes multidões e ali mesmo as curou.
JOÃO 7
A promessa da água viva
No último dia da festa, o mais solene, Jesus, de pé, disse em alta voz: «Se alguém tem sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim!», conforme o que consta das Escrituras: “De seu seio jorrarão rios de água viva.”
Jesus falava do espírito que deviam receber aqueles que tinham acreditado nele; pois não havia ainda espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado.
Novas discussões sobre a origem de Cristo
Alguns entre a multidão, ouvindo estas palavras, diziam: «Este é, verdadeiramente, o profeta!» Diziam outros: «É este o Cristo!» Mas alguns diziam: «Porventura pode o Cristo vir da Galileia?
A Escritura não diz que o Cristo será da descendência de David e virá de Belém, a cidade de onde era David?»
Produziu-se uma cisão entre o povo por sua causa. Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém lhe pôs a mão. Os guardas, então, voltaram aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus e estes perguntaram-lhes: «Por que não o trouxestes?» Responderam: «Jamais um homem falou assim!» Os fariseus replicaram: «Também fostes enganados? Alguns dos chefes ou alguém dos fariseus por acaso creram nele? Mas este povo, que não conhece a lei, é um povo maldito!»
Nicodemos, um deles, o que anteriormente tinha vindo até Jesus, disse-lhes: «Acaso a nossa lei condena alguém sem primeiro o ouvir e saber que delito cometeu?» Responderam-lhe: «És também galileu? Estuda e verás que da Galileia não vem qualquer profeta.»
E cada um voltou para sua casa.
JOÃO 8
A adúltera
Jesus foi para o monte das Oliveiras. Antes do nascer do sol, já se achava outra vez no Templo. O povo procurava-o e, sentando-se, ensinava-os.
Os escribas e os fariseus trouxeram, então, uma mulher surpreendida em adultério e, colocando-a no meio, disseram: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na lei, Moisés ordena-nos que tais mulheres sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?»
Eles diziam-no para o pôr à prova, com o fim de terem um argumento para o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, ia escrevendo na terra com o dedo.
Como persistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem dentre vós estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra!»
Inclinando-se de novo, escrevia na terra. Eles, porém, ouvindo as palavras de Jesus, saíram um após outro, a começar pelos mais velhos. Ele ficou sozinho enquanto a mulher permanecia no meio.
Então, erguendo-se, Jesus disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse, então, Jesus: «Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.»
JOÃO 8
Jesus, luz do mundo
De novo, Jesus lhes dizia: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.»
Discussão sobre o testemunho que Jesus deu de si mesmo
Disseram-lhe os fariseus: «Tu dás testemunho de ti mesmo: o teu testemunho não é válido.»
Jesus respondeu-lhes: «Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é válido, porque sei de onde venho e para onde vou. Vós, porém, não sabeis de onde venho nem para onde vou. Julgais conforme a carne, mas eu a ninguém julgo. Se eu julgo, porém, o meu julgamento é verdadeiro, porque eu não estou só, mas comigo está o Pai que me enviou; e está escrito na vossa lei que o testemunho de duas pessoas é válido. Eu dou testemunho de mim mesmo e também o Pai, que me enviou, dá testemunho de mim.»
Perguntavam-lhe, então: «Onde está o teu Pai?» Jesus respondeu: «Não me conheceis nem a mim nem a meu Pai; se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.»
Estas palavras, foram por ele proferidas no Tesouro quando ensinava no Templo.
E ninguém o prendeu, porque a sua hora ainda não tinha chegado.
JOÃO 9
Cura de um cego de nascença
Ao passar, Jesus viu um homem, cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe: «Mestre, quem pecou, ele ou os seus pais, para que nascesse cego?»
Jesus respondeu: «Nem ele nem seus pais pecaram, mas é cego para que nele sejam manifestadas as obras de Deus.»
Alguns diziam: «É ele.» Diziam outros: «Não, mas alguém parecido com ele.» Ele, porém, dizia: «Sou eu mesmo.» Perguntaram-lhe, então: «Como se abriram os teus olhos?» Ao que respondeu: «O homem chamado Jesus fez lama, aplicou-a nos meus olhos e disse-me: “Vai a Siloé e lava-te.” Fui, lavei-me e recobrei a vista.» Disseram-lhe: «Onde está ele?» Disse: «Não sei.»
Conduziram, pois, o que fora cego aos fariseus. Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos. Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha recobrado a vista. Respondeu-lhes o que tinha sido cego: «Ele aplicou- me lama nos olhos, lavei-me e vejo.»
Diziam, então, alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado.» Outros diziam: «Como pode um homem pecador realizar tais sinais?» E entre eles houve cisão.
De novo disseram ao cego: «Que dizes de quem te abriu os olhos?» Respondeu: «É um profeta.» Os judeus não creram que o homem fora cego enquanto não chamaram os pais e lhe perguntaram: «Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que agora ele vê?» Os seus pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego. Mas porque vê agora, não o sabemos; ou quem lhe abriu os olhos também o não sabemos. Interrogai-o. Ele tem idade. Ele mesmo se explicará.»
Seus pais disseram-no com medo dos judeus, pois já tinham combinado entre si que, se alguém reconhecesse Jesus como Cristo, seria expulso da sinagoga. Por isso disseram: “Ele já tem idade; interrogai-o.”
Chamaram, então, uma segunda vez, o homem que fora cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador.» Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. Mas uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo.»
Disseram-lhe, então: «Que te fez ele? Como te abriu os olhos?» Respondeu-lhes: «Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus discípulos?» Injuriaram-no e disseram: «Tu, sim, és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é.» Respondeu-lhes o homem: «Isso é espantoso: vós não sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religioso e faz a sua vontade, a este ele escuta-o. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença. Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer.» Responderam-lhe: «Tu nasceste todo em pecado e ensinas-nos?» E aí expulsaram-no.
Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: «Crês no Filho do Homem?» Ele respondeu-lhe: «Quem é, Senhor, para que eu nele creia?» Disse Jesus: «Tu estás a vê-lo, é quem fala contigo.» O que fora cego exclamou: «Creio, Senhor!» E prostrou-se diante de Jesus.
Então disse Jesus: «Para um discernimento é que vim a este mundo: para que os que não veem, vejam, e os que veem, se tornem cegos.»
Alguns fariseus, que se encontravam com ele, ouviram as palavras que proferiu e disseram-lhe: «Acaso também nós somos cegos?» Jesus disse: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas dizeis: “Nós vemos!” Por isso, o vosso pecado permanece.»
JOÃO 10
O bom pastor
Murillo
Disse Jesus: «Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. O que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre a porta: as ovelhas ouvem a sua voz e ele chama-as, uma a uma, conduzindo-as para o exterior.
Tendo feito sair todas as que são suas, caminha à frente delas e as ovelhas seguem-no, pois conhecem a sua voz. Elas não seguirão um estranho, mas fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.»
Jesus contou-lhes esta parábola. Eles, porém, não entenderam o sentido do que lhes dizia.
Disse-lhes novamente Jesus: «Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo. Entrará e sairá e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas. O mercenário, que não é o pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo arrebata-as e dispersa-as, porque ele é um interesseiro que não se importa com as ovelhas.
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai.
Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las, também; elas ouvirão a minha voz; então haverá um só rebanho, um só pastor. Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém ma tira, mas eu dou-a livremente. Tenho o poder de a entregar e o poder de a retomar; esse é o mandamento que recebi de meu Pai.»
Houve novamente uma cisão entre os judeus, por causa das suas palavras. Muitos diziam: «Ele tem um demónio! Está a delirar! Por que o escutais?» Outros diziam: «Não são de um endemoninhado estas palavras; porventura um demónio pode abrir os olhos aos cegos?»
LUCAS 10
O grande mandamento
E eis que um legista se levantou e disse, experimentando-o: «Mestre, que farei para herdar a vida eterna?» Disse Jesus: «O que é que está escrito na lei? Como o lês?» Respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo.»
Jesus disse: «Respondeste corretamente; faz isso e viverás.»
Parábola do bom samaritano
O dito legista, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é meu próximo?»
Jesus retomou o seu discurso: «Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e viu-se envolvido por salteadores que, depois de o terem despojado dos seus bens e de o terem espancado, o abandonaram meio-morto.
Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, atravessando o lugar, viu-o e prosseguiu.
Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e encheu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou das suas chagas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o no seu próprio animal, conduziu-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao estalajadeiro, dizendo: “Cuida dele, e o que gastares a mais, pagar-te-ei no meu regresso.”
Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?»
Respondeu o legista: «Aquele que usou de misericórdia para com ele.» Jesus disse-lhe: «Vai, e faz também tu o mesmo.»
LUCAS 10
Marta e Maria
Estando Jesus em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando as suas palavras. Marta estava ocupada com o serviço doméstico. Parando, por fim, disse: «Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Diz-lhe, pois, que me ajude.» Jesus disse: «Marta, Marta, tu inquietas-te e agitas-te por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»
LUCAS 11
O Pai-nosso
Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um de seus discípulos pediu-lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus discípulos.»
Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha a nós o teu Reino; dá-nos o pão nosso de cada dia; perdoa os nossos pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação.»
O amigo importuno
Jesus disse-lhes ainda: «Quem dentre vós, se tiver um amigo e o for procurar no meio da noite, dizendo: “Meu amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e nada tenho para lhe oferecer”, e ele vos responder de dentro: “Não me importunes; a porta já está fechada, e meus filhos e eu estamos na cama; não me posso levantar para tos dar”.
Digo-vos, mesmo que não se levante para vos dar por ser vosso amigo, levantar-se-á ao menos por causa da vossa insistência, e vos dará tudo aquilo que precisais.»
Eficácia da oração
Disse-lhes ainda Jesus: «Pedi e ser-vos-á dado; buscai e achareis; batei e será aberto. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá.
Quem de vós, sendo pai, se o filho lhe pedir um peixe, em vez do peixe lhe dará uma serpente? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!»
LUCAS 13
A porta estreita, a rejeição dos judeus infiéis e o chamamento dos pagãos
Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando enquanto se encaminhava para Jerusalém. E alguém lhe perguntou: «Senhor, é pequeno o número dos que se salvam?» Jesus respondeu: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se tenha levantado e tenha fechado a porta e vós, de fora, começardes a bater à porta, dizendo: “Senhor, abre-nos”, ele responder-vos-á: “Não sei de onde sois.” Então começareis a dizer: “Nós comíamos e bebíamos na tua presença, e tu ensinaste nas nossas praças.” Ele, porém, dirá: “Não sei de onde sois; afastai-vos de mim, todos vós, que cometeis injustiças!”
Haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, lançados fora. Eles virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.
Eis que há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.»
Herodes, uma raposa
Na mesma hora, aproximaram-se de Jesus alguns fariseus que lhe disseram: «Parte e vai-te daqui, porque Herodes te quer matar.» Disse Jesus: «Ide dizer a essa raposa: Eis que eu expulso demónios e realizo curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terei chegado ao meu fim! Mas hoje, amanhã e depois de amanhã, devo prosseguir o meu caminho, pois não é possível que um profeta pereça fora de Jerusalém.»
Palavra sobre Jerusalém
Disse Jesus: «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados, quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! Eis que a vossa casa ficará abandonada. Sim, eu vos digo, não me vereis até ao dia em que direis: Bendito aquele que vem em nome do Senhor!»
LUCAS 14
Cura de um hidrópico em dia de sábado
Certo sábado, Jesus entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição, e era por eles espiado. Um hidrópico estava por ali, diante dele. Tomando a palavra, Jesus disse aos legistas e aos fariseus: «É lícito ou não curar ao sábado?» Eles ficaram calados.
Tomou-o então, curou-o e despediu-o. Depois perguntou-lhes: «Qual de vós, se o seu filho ou o seu boi cair num poço, não o vai salvar imediatamente em dia de sábado?» Com estas palavras ficaram sem réplica possível.
A escolha dos lugares
Notando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, contou-lhes uma parábola.
Disse Jesus: «Quando alguém te convidar para uma festa de casamento, não te coloques no primeiro lugar; não aconteça que alguém mais digno do que tu tenha sido convidado por ele, e quem te convidou a ti e a ele te venha a dizer: “Cede-lhe o lugar.”
Deverás, então, envergonhado, ocupar o último lugar. Pelo contrário, quando fores convidado, ocupa o último lugar, de modo que, ao chegar quem te convidou, diga: “Amigo, vem mais para cima.” E isso será uma glória para ti na presença de todos os convivas.
Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.»
A escolha dos convidados
De seguida disse àquele que o convidara: «Ao dares um almoço ou jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não te convidem por sua vez e te retribuam do mesmo modo.
Pelo contrário, quando deres uma festa, chama pobres, estropiados, coxos, cegos; feliz serás, então, porque eles não têm com que te retribuir. Serás, porém, recompensado na ressurreição dos justos.»
Os convidados que recusam o banquete
Ouvindo estas palavras, um dos convivas disse-lhe: «Feliz aquele que tomar a sua refeição no Reino de Deus!»
Jesus disse: «Um homem estava a dar um grande jantar e convidou muitos para o banquete. À hora do jantar, enviou o seu servo para dizer aos convidados: “Vinde, já está tudo pronto.” Mas todos, unânimes, desculparam-se. O primeiro disse-lhe: “Comprei um terreno e preciso vê-lo; peço-te que me desculpes.” Outro disse: “Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me dês por escusado.” E outro disse: “Casei-me, e por essa razão não posso ir.”
Voltando, o servo narrou tudo ao seu senhor. Indignado, o dono da casa disse ao seu servo: “Vai depressa pelas praças e ruas da cidade, e traz para jantar em minha casa os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos.”
Disse-lhe o servo: “Senhor, o que mandaste já foi feito, e ainda há lugar.” O senhor disse então ao servo: “Vai pelos caminhos e trilhos e obriga as pessoas a entrarem, para que a minha casa fique repleta.
Pois eu vos digo que nenhum daqueles que haviam sido convidados provará do meu jantar.”»
LUCAS 15
As três parábolas da misericórdia
Todos os publicanos e pecadores estavam a aproximar-se para ouvir Jesus. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: «Esse homem recebe os pecadores e come com eles!»
Jesus contou-lhes, então, esta parábola:
A ovelha perdida
«Qual de vós, tendo cem ovelhas e perder uma, não abandona as noventa e nove no deserto e vai em busca daquela que se perdeu, até que a encontre? E encontrando-a, com alegria a coloca sobre os ombros e, de volta para casa, convoca os amigos e os vizinhos, dizendo-lhes: “Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida!”
Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos que não carecem de arrependimento.»
A dracma perdida
Contou ainda: «Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas e perder uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente até que a encontre?
E encontrando-a, convoca amigas e vizinhas, e diz: “Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma que havia perdido!”
Eu vos digo que, do mesmo modo, há alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se arrependa.»
LUCAS 15
O filho pródigo
Tissot
Disse ainda Jesus: «Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe.” E o pai dividiu os bens entre eles.
Poucos dias depois, juntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou a sua herança, gastando tudo.
Sobreveio naquela região uma grande fome e começou a passar por privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para os seus campos cuidar dos porcos. Queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: “Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados.”
Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai o viu. Enchendo-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho disse-lhe: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.”
Mas o pai disse aos seus servos: “Ide depressa, trazei a melhor túnica e vesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!”
E começaram a festejar. O seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu música e viu danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que é que estava a acontecer. O servo disse: “É o teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde.”
Ele ficou com grande ira e não queria entrar. Seu pai saiu e pediu-lhe para entrar. Ele respondeu a seu pai: “Há tantos anos que eu te sirvo, jamais transgredindo um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. Contudo, veio este teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele mandas matar o novilho cevado!”
Disse-lhe o pai: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois este teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!”»
LUCAS 16
O rico mau e o pobre Lázaro
Contou Jesus: «Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e a cada dia se banqueteava com todo o esmero. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico. Até os cães vinham lamber-lhe as úlceras.
Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na mansão dos mortos, no meio de grandes tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: “Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado por estas chamas.” Abraão respondeu: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens durante a tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós.”
O que tinha sido rico, replicou: “Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que lhes leve a eles o seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento.”
Abraão disse: “Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam.” Disse ele: “Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos os for procurar, arrepender-se-ão.” Mas Abraão disse-lhe: “Se não escutam nem Moisés nem os Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão.”»
LUCAS 18
O fariseu e o publicano
Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: “Ó Deus, eu dou-te graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos.” O publicano, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: “Meu Deus tem piedade de mim, que sou pecador!”
Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, enquanto que o outro, não. Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.»
MARCOS 10
Jesus e as crianças
Traziam-Lhe crianças para que as tocasse, mas os discípulos repreendiam-nas.
Vendo isso, Jesus ficou indignado e disse: «Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus.
Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.»
Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo-lhes as mãos.
MARCOS 10
O homem rico
Ao retomar o seu caminho, alguém correu e ajoelhou-se diante de Jesus, perguntando: «Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?» Disse Jesus: «Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu conheces os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunhos, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe.»
Então ele replicou: «Mestre é tudo o que tenho feito desde a minha juventude.»
Olhando-o, Jesus amou-o e disse: «Uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.»
Ele, porém, contristado com estas palavras, saiu dali pesaroso, pois era possuidor de muitos bens.
O perigo das riquezas
Então Jesus, olhando em volta, disse aos seus discípulos: «Como é difícil a quem tem riquezas entrar no Reino de Deus!»
Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Jesus, porém, continuou a dizer-lhes: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!»
Os discípulos ficaram muito espantados e disseram uns aos outros: «Então, quem pode ser salvo?» Disse Jesus: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível.»
Recompensa prometida pelo desprendimento
Pedro disse a Jesus: «Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.» Disse Jesus: «Em verdade vos digo que não há quem tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa ou por causa do Evangelho, que não receba cem vezes mais desde agora, neste tempo, casas, irmãos e irmãs, mãe e filhos e terras, com perseguições; e no mundo futuro, a vida eterna. Muitos dos primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros.»
MATEUS 20
Parábola dos trabalhadores da vinha
Jesus disse: «O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Depois de combinar com os trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha. Tornando a sair pela hora terceira, viu outros que estavam na praça, desocupados, e disse-lhes: “Ide, também vós para a vinha, e eu vos pagarei o que for justo.” Eles foram. Tornando a sair pela hora sexta e pela hora nona, fez a mesma coisa. Saindo pela hora undécima, encontrou outros que lá estavam e disse-lhes: “Por que ficais aí o dia inteiro desocupados? Responderam: “Porque ninguém nos contratou.” Disse-lhes: “Ide, também vós, para a minha vinha.”
Chegada a tarde, disse o dono da vinha ao seu administrador: “Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário começando pelos últimos até aos primeiros.” Vindo os da hora undécima, receberam um denário cada um. E vindo os primeiros, pensando que receberiam mais, receberam também um denário. Ao receber, murmuravam contra o pai de família e dono da vinha, dizendo: Estes últimos fizeram uma hora só e tu pagaste-lhes o mesmo que a nós, que suportamos o peso do dia e o calor do sol.”
Ele disse a um deles: “Amigo, não fui injusto contigo. Não combinaste um denário? Toma o que é teu e vai. Eu quero dar a este último o mesmo que te dou a ti. Não terei o direito de fazer o que eu quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau porque eu sou bom?”
Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.»
MARCOS 10
O cego à saída de Jericó
Jesus chegou a Jericó com os seus discípulos. Ao saírem de Jericó e com grande multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando, o cego Bartimeu, filho de Timeu.
Quando Bartimeu percebeu que era Jesus, o Nazareno, que passava, começou a gritar: «Filho de David, Jesus, tem compaixão de mim!» E muitos, o repreendiam para que se calasse. Ele, porém, gritava ainda mais: «Filho de David tem compaixão de mim!» Detendo-se, Jesus disse: «Chamai-o!» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem! Ele chama-te. Levanta-te.»
Deixando a sua capa, levantou-se e abeirou-se de Jesus. Jesus disse: «Que queres que eu te faça?» O cego respondeu: «Rabi! Que eu possa ver novamente!» Jesus disse: «Vai, a tua fé te salvou.» No mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu-o no caminho.
LUCAS 19
Zaqueu
E, tendo entrado em Jericó, Jesus atravessou a cidade.
Havia lá um homem chamado Zaqueu, que era rico e chefe dos publicanos. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, pois era de baixa estatura. Correu então à frente e subiu num sicómoro para ver Jesus que por ali iria passar. Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse: «Zaqueu desce rapidamente, pois hoje devo ficar em tua casa.» Ele desceu imediatamente e recebeu-o com alegria. À vista do acontecido, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-se na casa de um pecador!»
Zaqueu, de pé, disse a Jesus: «Senhor, darei metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo.» Jesus disse: «Hoje a salvação entrou nesta casa, porque Zaqueu também é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que se encontrava perdido.»
JOÃO 11
Ressurreição de Lázaro
Rembrandt
Havia um doente, Lázaro, de Betânia, terra de Maria e de sua irmã Marta. Maria era aquela que ungira o Senhor com bálsamo e lhe enxugara os pés com os cabelos. Seu irmão Lázaro estava doente. As duas irmãs mandaram, então, dizer a Jesus: «Senhor, aquele que amas está doente.»
Perante essa notícia, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus.»
Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro. Quando soube que este se achava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar em que se encontrava; só depois, disse aos discípulos: «Vamos outra vez até à Judeia!» Os seus discípulos disseram-lhe: «Mestre, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te e vais para lá outra vez?» Disse Jesus: «Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas se alguém caminha à noite, tropeça, porque a luz não está nele.»
Disse isto e depois acrescentou: «Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo.» Os discípulos responderam: «Senhor, se ele está a dormir, vai salvar-se!» Jesus, porém, falara da sua morte e eles julgavam que estivesse a falar do repouso do sono.
Então Jesus falou-lhes claramente: «Lázaro morreu. Por vossa causa, alegro-me de não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele!» Tomé, chamado Dídimo, disse então aos outros discípulos: «Vamos também nós, para morrermos com ele!» Ao chegar, Jesus encontrou Lázaro já sepultado havia quatro dias.
Betânia ficava perto de Jerusalém, a uns quinze estádios. Muitos judeus tinham vindo até Marta e Maria, para as consolar pela perda do irmão. Quando Marta soube que Jesus chegara, saiu ao seu encontro; Maria, porém, continuava sentada, em casa. Então, disse Marta a Jesus: «Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que tudo o que pedires a Deus, ser-te-á concedido.» Jesus disse: «Teu irmão ressuscitará.» «Sei», disse Marta, «que ele irá ressuscitar na ressurreição do último dia!»
Jesus disse: «Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá. Crês nisso?» Ela disse: «Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo.» Tendo dito isso, afastou-se e chamou sua irmã Maria, dizendo-lhe em voz baixa: «O Senhor está aqui e chama por ti!» Esta, ouvindo isso, ergueu-se de imediato e foi ao seu encontro.
Jesus não entrara ainda no povoado, mas estava no lugar em que Marta fora ao seu encontro. Quando os judeus, que estavam na casa com Maria, consolando-a, a viram levantar rapidamente e sair, acompanharam-na, julgando que fosse ao sepulcro para aí chorar. Chegando ao lugar onde Jesus estava, Maria, vendo-o, prostrou-se a seus pés e disse: «Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.»
Quando Jesus a viu chorar e também aos judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado. Perguntou: «Onde o colocastes?» Responderam-lhe: «Senhor, vem e vê!» Jesus chorou. Diziam, então, os judeus: «Vede como ele o amava!» Alguns deles disseram: «Esse, que abriu os olhos do cego, não poderia ter feito com que ele não morresse?»
Comoveu-se de novo Jesus e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta, com uma pedra sobreposta. Jesus disse: «Retirai a pedra!» Marta, a irmã do morto, disse a Jesus: «Senhor, já cheira mal: é o quarto dia!» Disse Jesus: «Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?»
Retiraram, então, a pedra. Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: «Pai, dou-te graças porque me ouviste. Eu sabia que me ouves sempre; mas digo isto por causa da multidão que me cerca, para que creiam que me enviaste.» Tendo dito isto, gritou em voz alta: «Lázaro, vem para fora!» O morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Disse Jesus: «Desatai-o e deixai-o ir embora.»
Os chefes judeus sentenciam a morte de Jesus
Muitos judeus que tinham vindo à casa de Maria, tendo visto o que Jesus fizera, creram nele. Mas alguns dirigiram-se aos fariseus e contaram-lhes o que Jesus fizera. Então, os chefes dos sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram: «Que faremos? Esse homem realiza muitos sinais. Se o deixarmos assim, todos crerão nele e os romanos virão, destruindo o nosso santo lugar e a nação de Israel.»
Um deles, Caifás, que era Sumo-sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não entendeis nada. Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação inteira?» Não dizia isso por si mesmo, mas sendo Sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação; e não só pela nação, mas também para agregar na unidade todos os filhos de Deus que se encontravam dispersos.
A partir desse dia, resolveram matá-lo. Jesus, por isso, não andava em público, entre os judeus, mas retirou-se para uma região próxima do deserto, cidade chamada Efraim, e aí permaneceu com os seus discípulos.
A aproximação da Páscoa
A Páscoa dos judeus estava próxima, e muitos subiram do campo a Jerusalém, antes da Páscoa, para se purificarem. Procuravam Jesus e, estando no Templo, diziam entre si: «Que pensais? Será que vem à festa?» Os chefes dos sacerdotes e os fariseus, porém, tinham ordenado que quem soubesse onde Jesus estava, o indicasse, para que o prendessem.
JOÃO 12
A unção de Betânia
Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde estava Lázaro, que ele ressuscitara dos mortos.
Ofereceram-lhe aí um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tendo tomado uma libra de um perfume de nardo puro, muito dispendioso, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. A casa ficou cheia do perfume do bálsamo. Disse, então, Judas Iscariote, um de seus discípulos, o que o iria trair: «Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para que fossem doados aos pobres?»
Ele disse-o, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, sendo o portador da bolsa comum, roubava o que aí era colocado. Jesus disse: «Deixa-a; que ela o conserve para o dia da minha sepultura! Pois sempre tereis pobres convosco; mas a mim nem sempre me tereis.»
Uma grande multidão de judeus, tendo sabido que Jesus estava ali, veio, não só por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, que ele ressuscitara dos mortos. Os chefes dos sacerdotes decidiram, então, matar também Lázaro, pois, por causa dele, muitos judeus se afastavam e acreditavam em Jesus.
No dia seguinte, a multidão que viera para a festa, sabendo que Jesus vinha a Jerusalém, apanhou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro.
LUCAS 19
Entrada messiânica em Jerusalém
Quando se aproximava de Betfagé e de Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras, enviou dois discípulos, dizendo: «Ide ao povoado da frente e, ao entrardes, encontrareis um jumento amarrado que ninguém ainda montou: soltando-o, trazei-o.» E se alguém vos perguntar “Por que o soltais?”, respondereis: “O Senhor precisa dele.”»
Tendo partido, os enviados encontraram as coisas tal como ele lhes dissera. Enquanto desamarravam o jumento, os donos perguntaram: «Por que soltais o jumento?» Responderam: «O Senhor precisa dele.»
Levaram-no então a Jesus e, estendendo as suas vestes sobre o jumento, fizeram com que Jesus o montasse. Enquanto ele avançava, o povo estendia as suas túnicas no caminho. Já estava perto da descida do monte das Oliveiras, quando toda a multidão dos discípulos começou, alegremente, a louvar Deus com voz forte por todos os milagres que eles tinham visto.
Diziam: «Bendito o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto dos céus!»
Jesus aprova as aclamações de seus discípulos
Alguns fariseus da multidão disseram-lhe: «Mestre, repreende os teus discípulos.» Jesus, porém, respondeu: «Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão.»
Lamentação sobre Jerusalém
E, como estivesse perto, viu a cidade de Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: «Ah! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isso está escondido aos teus olhos. Pois dias virão sobre ti, e os teus inimigos te irão cercar com trincheiras, te rodearão e apertarão por todos os lados. Deitar-te-ão por terra a ti e a teus filhos no meio de ti, e de ti não deixarão pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada!»
MATEUS 21
Os vendedores expulsos do Templo
El Greco
Jesus entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: «Está escrito: “A minha casa será chamada casa de oração.” Vós, porém, fizestes dela um covil de ladrões!»
Aproximaram-se dele, no Templo, cegos e coxos, e ele curou-os. Os chefes dos sacerdotes e os escribas, vendo os prodígios que fizera e as crianças que exclamavam no Templo “Hosana ao Filho de David!”, ficaram indignados e disseram-lhe: «Estás a ouvir o que dizem de ti?» Disse Jesus: «Sim. Nunca lestes que: “Da boca dos pequeninos e das criancinhas de peito preparaste um louvor para ti.”»
Em seguida, deixando-os, saiu fora da cidade e dirigiu-se para Betânia. E ali pernoitou.
LUCAS 20
Pergunta dos judeus sobre a autoridade de Jesus
Certo dia, enquanto ensinava o povo no Templo, anunciando a boa-nova, os chefes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos apresentaram-se, dizendo-lhe: «Diz-nos com que autoridade fazes estas coisas, ou quem é que te concedeu esta autoridade?» Jesus respondeu: «Também eu vos vou propor uma questão. Dizei-me: O baptismo de João veio do Céu ou dos homens?»
Eles raciocinavam entre si, dizendo: «Se respondermos “do Céu”, ele dirá: “Por que não crestes nele?” Se respondermos “dos homens”, o povo todo irá apedrejar-nos, porque está convicto de que João é um profeta.» Responderam que não sabiam de onde vinha o baptismo de João.
Disse Jesus: «Nem eu vos digo com que autoridade faço estes sinais.»
MARCOS 12
O primeiro mandamento
Um dos escribas que ouvira a discussão, reconhecendo que Jesus respondera correctamente, perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?»
Disse Jesus: «O primeiro é: Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento, e com toda a tua força. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que estes.»
O escriba disse: «Muito bem, Mestre, tens razão ao dizer que ele é o único e não existe outro além dele, e amá-lo de todo o coração, com toda a inteligência, com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é muito mais do que todos os holocaustos e que todos os sacrifícios.»
Jesus, vendo que ele respondera com inteligência, disse-lhe: «Tu não estás longe do Reino de Deus.»
E ninguém mais ousava interrogá-Lo.
MARCOS 12
O óbolo da viúva
Jesus estando sentado em frente ao Tesouro do Templo, observava como a multidão lançava pequenas moedas no Tesouro, e muitos dos ricos lançavam muitas moedas.
Vindo uma pobre viúva, lançou duas moedinhas. Chamando a si os discípulos, disse-lhes: «Em verdade vos digo que esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.»
MATEUS 24
Saindo do Templo, Jesus caminhava e os discípulos aproximaram-se dele. Jesus disse-lhes: «Estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo: não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja demolida.»
Estando Jesus sentado no monte das Oliveiras, os discípulos aproximaram-se dele, a sós, dizendo: «Diz-nos quando é que isso vai acontecer, e qual o sinal da tua vinda e da consumação dos tempos.»
O princípio das dores
Jesus respondeu: «Atenção para que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: “O Cristo sou eu”, e a muitos hão-de enganar.
Haveis de ouvir nomear guerras e rumores de guerras. Cuidado para não vos alarmardes. É preciso que aconteçam, mas ainda não é o fim. Pois levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. E haverá fome e terramotos em todos os lugares. Tudo isso será o princípio das dores.
Nesse tempo, irão entregar-vos à tribulação e matar-vos-ão, e sereis odiados por todos os povos por causa do meu nome. E então muitos ficarão escandalizados e entregar-se-ão mutuamente e odiar-se-ão uns aos outros. Surgirão falsos profetas em grande número burlando muitos. E pelo aumento da iniquidade, o amor de muitos arrefecerá.
Aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo. E este Evangelho do Reino será proclamado no mundo inteiro, como testemunho para todas as nações.
E então virá o fim.
MATEUS 25
Parábola das dez virgens
Disse Jesus: «O Reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo.
Cinco eram insensatas e cinco, prudentes. As insensatas, ao pegarem nas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes levaram vasos de azeite com as suas lâmpadas. Atrasando-se o noivo, todas elas acabaram dormitando.
Quando foi aí pela meia-noite, ouviu-se um grito: “O noivo vem aí! Saí ao seu encontro!” Todas as virgens se levantaram, e trataram de preparar as lâmpadas. As imprudentes disseram às precavidas: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão a apagar-se.” As prudentes responderam: “De modo algum, o azeite poderia não bastar para nós e para vós. Ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós.”
Enquanto foram comprar o azeite, o noivo chegou e as que estavam prontas entraram com ele para o banquete de núpcias. E a porta fechou-se. Finalmente, chegaram as outras virgens, dizendo: “Senhor, senhor, abre-nos!” Mas ele respondeu: “Em verdade vos digo: não vos conheço!”
Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora.»
MATEUS 25
Parábola dos talentos
Continuou Jesus: «Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu.
Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu e investiu-os, tendo ganho outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que recebera um só guardou-o e foi abrir uma cova no chão. Aí enterrou o dinheiro do seu senhor.
Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e fez contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: “Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei.” Disse-lhe o senhor: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!” Chegando também o dos dois talentos, disse: “Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei.” Disse-lhe o senhor: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!” Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: “Senhor, eu sei que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e juntas onde não dispersaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu.” Respondeu-lhe o senhor: “Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que junto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas àquele que não tem, até o que tem lhe será tirado.
Quanto ao servo inútil, lançai-o fora às trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!”.»
MATEUS 25
O último julgamento
Miguel Ângelo
Disse Jesus: «Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, assentar-se-á no trono da sua glória. E na sua presença serão reunidas todas as nações. Ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e destes-me de comer. Tive sede e destes-me de beber. Era forasteiro e recolhestes-me. Estive nu e vestistes-me, doente e visitastes-me, preso e viestes ver-me.”
Então os justos dirão: «Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e te fomos ver?”
Ao que lhes responderá o rei: “Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.”
Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos.
Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso, e não me visitastes.”
Então, também eles dirão: “Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?”
E ele responderá com estas palavras: “Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.
E a estes está destinado o eterno castigo, enquanto para os justos está destinada a vida eterna.”»
LUCAS 22
Conspiração contra Jesus e traição de Judas
Aproximava-se a festa dos Ázimos, chamada Páscoa. Os chefes dos sacerdotes e os escribas procuravam o modo mais fácil de eliminar Jesus, pois temiam o povo.
Satanás entrou em Judas, chamado Iscariote, do número dos Doze. Judas foi conferenciar com os chefes dos sacerdotes e com os chefes da guarda sobre o modo de lhes entregar Jesus. Alegraram-se e combinaram dar-lhe algum dinheiro. Judas aceitou, e demandava uma oportunidade para o entregar.
LUCAS 22
Preparativos da ceia pascal
Veio o dia dos Ázimos, quando devia ser imolada a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: «Ide preparar-nos a Páscoa para que possamos comer.» Perguntaram-lhe: «Senhor, onde queres tu que a preparemos?» Jesus respondeu-lhes: «Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que entrar. Direis ao dono da casa: “O Mestre pergunta-te: onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos?” Ele mostrar-vos-á, no andar superior, uma grande sala, provida de almofadas; preparai-a ali.»
Eles foram e encontraram tudo como Jesus dissera, e prepararam a Páscoa.
A ceia pascal
Poussin
Quando chegou a hora, ele pôs-se à mesa com os seus apóstolos e disse-lhes: «Desejei ardentemente comer nesta Páscoa convosco antes de sofrer; pois digo-vos que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus.»
Então, tomando um cálice, deu graças e disse: «Tomai este vinho e reparti entre vós; pois vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus.»
Instituição da Eucaristia
E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o por todos, dizendo. «Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória.»
Depois de comer, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós.»
JOÃO 13
O lava-pés
Tintoretto
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de partir deste mundo para o Pai, tendo amado os que estavam no mundo, amou-os até ao fim.
Durante a ceia, quando já o diabo colocara no coração de Judas Iscariote, filho de Simão, o projecto de o entregar, sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, levantou-se da mesa, depôs o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois colocou água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.
Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz: «Senhor, tu a lavar-me os pés?!» Respondeu-lhe Jesus: «O que faço, não o compreendes agora, mas irás compreendê-lo mais tarde.» Disse-lhe Pedro: «Jamais me lavarás os pés!» Disse Jesus: «Se eu não te lavar, não terás parte comigo.» Simão Pedro disse-lhe: «Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça.» Disse Jesus: «Quem se banhou não tem necessidade de se lavar, porque está inteiramente puro. Vós também estais puros, mas não todos.»
Ele sabia, com efeito, quem o entregaria; por isso, disse: “Nem todos estais puros.”
Depois de lhes ter lavado os pés, retomou o seu manto, voltou à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou. Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes. Não falo de todos vós; eu conheço os que escolhi. Mas é preciso que se cumpra a Escritura: “Aquele que come o meu pão levantou contra mim o seu calcanhar!” Digo-vos isto agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que “eu sou”.
Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.»
O anúncio da traição de Judas
Tendo dito isto, Jesus perturbou-se interiormente e disse: «Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós entregar-me-á.» Os discípulos olhavam-se, sem saber de quem falava Jesus.
Estava à mesa, ao lado de Jesus, um de seus discípulos, aquele que Jesus amava. Simão Pedro fez-lhe, então, um sinal e diz-lhe: «Pergunta-lhe quem é aquele de que nos fala.» Ele, então, reclinando-se sobre o peito de Jesus, diz-lhe: «Quem é, Senhor?" Disse Jesus: «É aquele a quem eu der o pão que vou humedecer no molho.» Tendo humedecido o pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariote. Depois do pão, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe: «Faz depressa o que estás para fazer.» Mas nenhum dos que estavam à mesa compreendeu.
Como era Judas quem guardava a bolsa comum, alguns pensavam que Jesus lhe dissera: “Compra o necessário para a festa”, ou que desse algo aos pobres.
Tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente.
Era noite.
JOÃO 13
A despedida
Quando Judas saiu, disse Jesus: «Agora o Filho do Homem foi glorificado e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi nele glorificado, Deus também o glorificará em si mesmo.
Filhos, estarei convosco por pouco tempo. Vós me procurareis e, como eu havia dito aos judeus, agora também vo-lo digo: Para onde vou vós não podeis ir.
Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Se tiverdes amor uns pelos outros, todos reconhecerão que sois meus discípulos.»
Simão Pedro disse: «Senhor, para onde vais?» Respondeu Jesus: «Não podes seguir-me agora para onde vou, mas seguir-me-ás mais tarde.» Disse Pedro: «Qual o motivo pelo qual não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por ti.» Disse Jesus: «Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade, te digo: o galo não cantará sem que me renegues três vezes.»
JOÃO 14
Jesus disse: «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu ter-vos-ia dito, pois vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e levar-vos-ei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também. Para onde vou, conheceis o caminho.»
Tomé disse: «Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?» Disse Jesus: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também conhecereis a meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes.»
Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta!» Disse Jesus: «Estou há tanto tempo convosco e tu não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como podes dizer: “Mostra-nos o Pai!”? Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o, ao menos, por causa dessas obras.
Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maiores do que elas, porque eu vou para o Pai. E o que pedirdes em meu nome, eu o farei a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes algo em meu nome, eu o farei. Se me amais, observareis os meus mandamentos, e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque convosco permanece.
Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Mais um pouco e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis porque eu vivo e vós vivereis. Nesse dia compreendereis que eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós. Quem tem os meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e a ele me manifestarei. Se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará e viremos até ele e nele estabeleceremos morada.
Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. Estas coisas vos tenho dito estando entre vós. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á tudo e recordar-vos-á de tudo o que eu vos disse.
Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como o mundo a dá. Que o vosso coração não se perturbe nem se intimide. Vós ouvistes o que vos disse: Vou e retorno a vós. Se me amásseis, ficaríeis alegres por eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que eu. Eu disse-o agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais. Já não falarei muito, pois vem aí o príncipe do mundo; contra mim, ele nada pode, mas o mundo saberá que amo o Pai e faço o que o Pai me ordenou.
Levantai-vos! Partamos daqui!
JOÃO 15
A verdadeira videira
Jesus, então, disse: «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo o ramo em mim que não produz fruto ele corta-o, e todo o que produz fruto ele poda-o, para que produza mais fruto.
Vós já estais puros, por causa da palavra que vos fiz ouvir. Permanecei em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer.
Se alguém não permanece em mim é lançado fora, como o ramo, e seca; tais ramos são recolhidos, lançados ao fogo e queimam-se. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vós o tereis. Meu Pai é glorificado quando produzis muito fruto e vos tornais meus discípulos.
Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena.
Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos ordeno. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas chamo-vos amigos, porque tudo o que eu ouvi de meu Pai vo-lo dei a conhecer.
Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que o Pai vos dê tudo o que pedirdes em meu nome.
Isto vos ordeno: amai-vos uns aos outros.»
JOÃO 16
Jesus disse: «Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. Disse-vos estas coisas por imagens. Chega a hora em que já não vos falarei por imagens, mas falarei com clareza do Pai.
Nesse dia, pedireis em meu nome e não vos digo que intervirei junto ao Pai por vós, pois o próprio Pai vos ama, porque me amastes e crestes que vim de Deus. Saí do Pai e vim ao mundo; de novo deixo o mundo e vou para o Pai.»
Os seus discípulos disseram: «Eis que agora falas claramente, sem ser por imagens! Agora vemos que tudo sabes e não tens necessidade de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.»
Disse Jesus: «Credes agora? Eis que chega a hora em que vos dispersareis, cada um para o seu lado, e me deixareis sozinho. Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo. Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!»
MATEUS 26
No Getsémani
Então Jesus foi com os discípulos a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aí enquanto vou ali para orar.»
Levando Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.
Disse-lhes: «A minha alma está numa tristeza de morte. Permanecei aqui e vigiai comigo.» E, indo um pouco adiante, prostrou-se com o rosto por terra e orou: «Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres.»
Ao voltar para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir. Disse, Jesus, a Pedro: «Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.»
Afastando-se de novo pela segunda vez, orou: «Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade e não a minha!» E ao voltar de novo, encontrou-os a dormir, pois estavam cheios de sono.
Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras. Veio, então, para junto dos discípulos e disse: «Dormi agora e repousai: eis que a hora está a chegar e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
Levantai-vos! Vamos! Eis que se aproxima o meu traidor.»
Prisão de Jesus
Van Dyck
Enquanto ainda falava, veio Judas, um dos Doze acompanhado de uma multidão com espadas e varapaus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. Judas dera-lhes um sinal, dizendo: «É aquele que eu beijar; prendei-o.»
E logo, aproximando-se de Jesus, disse: «Salve, Mestre!» e beijou-o. Disse Jesus: «Amigo, para que estás aqui?» Então, avançando sobre Jesus, prenderam-no. E eis que um dos que estavam com Jesus, desembainhou a espada e, feriu o servo do Sumo-sacerdote, decepando-lhe a orelha.
Mas Jesus disse: «Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que matam pela espada pela espada perecerão. Ou pensas tu que eu não poderia recorrer a meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais tudo isto deve acontecer?»
Naquela hora, disse Jesus à multidão: «Como a um ladrão, saístes para me prender com espadas e varapaus! Eu sentava-me no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes.»
Tudo isto, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas.
Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.
MATEUS 26
Jesus perante o Sinédrio
Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo-sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
Pedro seguiu-o de longe até ao pátio do Sumo-sacerdote e, penetrando no interior, sentou-se com os servos para ver o que acontecia. Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho falso contra Jesus, com a finalidade de o matar, mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas testemunhas falsas.
Por fim, apareceram duas que afirmaram: «Este homem declarou: “Posso destruir o Templo de Deus e edificá-lo depois em três dias.” Levantando-se então o Sumo-sacerdote, disse a Jesus: «Nada respondes? O que estes testemunham contra ti?» Jesus, porém, ficou calado.
O Sumo-sacerdote disse a Jesus: «Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus.» Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.»
O Sumo-sacerdote, então, rasgou as suas vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos de testemunhas? Vede: vós ouvistes neste instante a blasfémia. Que pensais?»
Responderam: «É réu de morte.»
Cuspiram-lhe no rosto e esbofetearam-no. Outros davam-lhe pauladas, dizendo: «Faz-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?»
Negações de Pedro
Pedro estava sentado fora, no pátio. Aproximou-se dele uma criada, dizendo: «Também tu estavas com Jesus, o Galileu!» Pedro, porém, negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.»
Saindo para o pórtico, uma outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Ele estava com Jesus, o Nazareno.» De novo Pedro negou, jurando que não conhecia tal homem.
Pouco depois, os que lá estavam disseram a Pedro: «De facto, tu também és um deles; pois o teu dialecto denuncia-te.» Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: «Não conheço o homem!»
E imediatamente o galo cantou. E Pedro lembrou-se das palavras que Jesus dissera: “Antes que o galo cante, três vezes me negarás.”
Saindo dali, chorou amargamente.
MATEUS 27
Jesus é conduzido à presença de Pilatos
Chegada a manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, de modo a que fosse condenado à morte. Assim, amarrando-o, levaram-no e entregaram-no a Pilatos, o governador romano.
Morte de Judas
Judas, que o entregara, vendo que Jesus fora condenado, sentiu remorsos e foi devolver aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo: «Pequei, entregando-vos sangue inocente.» Mas estes responderam: «Que temos nós com isso? O problema é teu.»
Judas, lançando as moedas no Templo, retirou-se e foi enforcar-se.
Os chefes dos sacerdotes, tomando as moedas, disseram: «Não é lícito depositá-las no tesouro do Templo, porque se trata de preço de sangue.» Assim, depois de deliberarem em conselho, compraram com elas o campo do Oleiro para o sepultamento dos estrangeiros. Eis porque até hoje aquele campo se chama "Campo de Sangue".
JOÃO 18
Jesus diante de Pilatos
Ciseri
De Caifás conduziram Jesus ao pretório. Era de manhã. Eles não entraram no pretório para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa.
Pilatos, então, saiu para fora ao seu encontro e disse: «Que acusação trazeis contra este homem?» Responderam-lhe: «Se não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Pilatos disse-lhes: «Tomai-o vós mesmos, e julgai-o conforme a vossa lei.» Disseram-lhe os judeus: «Não nos é permitido condenar ninguém à morte.»
Então, Pilatos, entrou novamente no pretório, chamou Jesus e disse-lhe: «Tu és o rei dos judeus?» Disse Jesus: «Falas assim por ti mesmo ou foram outros que te disseram isso de mim?» Pilatos respondeu: «Sou, por acaso, judeu? O teu povo e os chefes dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?»
Jesus respondeu a Pilatos: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus súbditos teriam combatido para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui.» Disse-lhe Pilatos: «Então, tu és rei?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é pela verdade escuta a minha voz.»
Disse-lhe Pilatos: «Que é a verdade?» E tendo dito isto, saiu de novo e foi ao encontro dos judeus e disse-lhes: «Não encontro nenhuma culpa nele. É costume entre vós que eu vos solte um preso, na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Então gritavam, clamando: «Jesus não, mas solta Barrabás!» Barrabás era um bandido.
JOÃO 19
Flagelação de Jesus
Pilatos, então, prendeu Jesus e mandou-o flagelar. Os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em redor da sua cabeça e sobre ele puseram um manto cor de púrpura. Aproximando-se de Jesus, diziam: «Salve, ó rei dos judeus!» E esbofeteavam-no.
Pilatos saiu de novo, e disse-lhes: «Vede: eu vo-lo trago aqui fora, para saberdes que nele não encontro motivo algum de condenação.» Jesus, então, saiu também para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E Pilatos disse-lhes: «Eis o homem!»
Quando os chefes dos sacerdotes e os guardas o viram, gritaram: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Levai-o vós e crucificai-o, porque nele eu não descubro qualquer culpa. Os judeus responderam-lhe: «Nós temos uma lei e, em conformidade com essa lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus.»
Quando Pilatos ouviu estas palavras, ficou ainda mais assustado. Tornando a entrar no pretório, disse a Jesus: «De onde és tu?» Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-lhe, então, Pilatos: «Não me respondes? Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder para te crucificar?» Disse Jesus: «Não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto; por isso, quem a ti me entregou tem muito maior pecado.»
A condenação à morte
Daí em diante, Pilatos procurava libertar Jesus. Mas os judeus gritavam: «Se o soltas, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é um opositor de César!» Ouvindo tais palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora, fê-lo sentar no tribunal, no lugar chamado Pavimento.
Era o dia da preparação da Páscoa, perto da sexta hora. Disse Pilatos aos judeus: «Eis o vosso rei!» Os judeus gritavam: «À morte! À morte! Crucifica-o!»
Disse-lhes Pilatos: «Crucificarei o vosso rei?!» Os chefes dos sacerdotes responderam: «Não temos outro rei a não ser César!»
Então Pilatos entregou-o para ser crucificado.
LUCAS 23
A caminho do Calvário
Enquanto levavam Jesus, tomaram um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e impuseram-lhe a cruz para a levar atrás de Jesus. Grande multidão do povo seguia-o, como também mulheres que batiam no peito e por causa dele se lamentavam. Jesus, porém, voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Pois, eis que virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, as entranhas que não conceberam e os seios que não amamentaram! Então começarão a dizer às montanhas: Caí sobre nós! E às colinas: Cobri-nos! Porque se fazem assim com o lenho verde, o que acontecerá com o seco?»
Eram conduzidos também dois malfeitores para serem executados com Jesus.
A crucifixão
Mielich
Chegando ao lugar chamado Caveira, crucificaram-no, bem como aos malfeitores, um à direita e outro à sua esquerda.
Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.»
Depois, repartindo as suas vestes, sortearam-nas.
Jesus na cruz, sujeito a zombaria e ultrajes
Rubens
O povo, a observar, permanecia junto à cruz. Os chefes, porém, zombavam e diziam: «Se é o Cristo de Deus, o Eleito, se salvou outros, que se salve a si mesmo.»
Os soldados também zombavam dele; aproximando-se, traziam-lhe vinagre, e diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.»
E havia uma inscrição acima dele: "Este é o Rei dos judeus".
O "bom ladrão"
Um dos malfeitores suspensos na cruz insultava Jesus, dizendo: «Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós.» Mas o outro, tomando a palavra repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça; estamos a pagar pelos nossos actos; mas ele não fez nenhum mal.» E disse ainda: «Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com o teu reino.»
Jesus respondeu: «Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso.»
A morte de Jesus
Rubens
Era já mais ou menos a hora sexta quando o sol desapareceu e a terra foi coberta por trevas até à hora nona.
O véu do Santuário rasgou-se ao meio, e Jesus deu um grande grito: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.»
Dizendo isso, expirou.
Após a morte de Jesus
O centurião, vendo o que acontecera, glorificava a Deus, dizendo: «Realmente, este homem era um justo!»
Weyden
MATEUS 27
Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus desde a Galileia, servindo-o. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
O sepultamento
Mantegna
Chegada a tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, o qual também se tornara discípulo de Jesus. E dirigindo- se a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo lhe fosse entregue.
José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e colocou-o num sepulcro novo, que talhara na rocha. Em seguida rolando uma grande pedra para a entrada do túmulo, retirou-se.
Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas em frente ao sepulcro.
A guarda do túmulo
No dia seguinte, um dia depois da Preparação, os chefes dos sacerdotes e os fariseus, reunidos junto a Pilatos, diziam: «Senhor, lembramo-nos de que aquele impostor disse, quando ainda vivo: “Depois de três dias ressuscitarei!” Ordena, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia, para que os discípulos não venham roubar o corpo e depois digam ao povo: “Ele ressuscitou dos mortos!” e a última impostura será pior do que a primeira.»
Pilatos disse: «Tendes uma guarda; ide, guardai o sepulcro, como entenderdes.» E, saindo, os judeus colocaram em segurança o sepulcro, selando a pedra e montando guarda.
JOÃO 20
O sepulcro encontrado vazio
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra fora retirada. Correu indo encontrar-se com Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, dizendo-lhes: «Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde colocaram o seu corpo.»
Pedro saiu, então, com o outro discípulo e dirigiram-se ao sepulcro. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinando-se, viu os panos de linho por terra, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro; viu os panos de linho por terra e o sudário que cobrira a cabeça de Jesus. O sudário não estava com os panos de linho no chão, mas enrolado num lugar, à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: e viu e acreditou.
Pois ainda não tinham compreendido que, conforme a Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos.
Depois os discípulos voltaram para casa.
Aparição a Maria Madalena
Romney
Maria Madalena estava junto ao sepulcro, do lado de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para o interior do sepulcro e viu dois anjos, vestidos de branco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e outro aos pés.
Disseram-lhe os anjos: «Mulher, por que choras?» E ela disse-lhes: «Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram!»
Dizendo isto, voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não sabia que era Jesus. Disse Jesus: «Mulher, por que choras? A quem procuras?» Pensando tratar-se do jardineiro, disse-lhe ela: «Senhor, se foste tu que o levaste, diz-me onde o puseste e eu o irei buscar!»
Disse Jesus: «Maria!» Maria disse-lhe em hebraico: «Rabbuni!», que quer dizer “Mestre”. Disse Jesus: «Não me retenhas pois ainda não subi a meu Pai. Vai, porém, a meus irmãos e diz-lhes: “Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus.”»
Maria Madalena anunciou de imediato aos discípulos: «Vi o Senhor», e disse-lhes as coisas que ele lhe disse.
LUCAS 24
Os dois discípulos de Emaús
Dois dos discípulos viajavam nesse mesmo dia para uma povoação chamada Emaús, a sessenta estádios de Jerusalém; e conversavam sobre todos estes acontecimentos. Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer.
Disse Jesus: «Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?» E eles pararam, com o rosto sombrio. Um deles, chamado Cléofas, perguntou-lhe: «Tu és em Jerusalém o único forasteiro que ignora os factos que aconteceram por estes dias. «Quais?», disse ele. Responderam: «O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo: os nossos chefes e sacerdotes entregaram-no para ser condenado à morte e para o crucificarem. Nós esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel. Faz três dias que todas estas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que tinham tido uma visão de anjos declarando que Jesus está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!»
Jesus, então, disse-lhes: «Insensatos e fracos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isto e entrasse em sua glória?»
E, começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou em todas as Escrituras o que lhe dizia respeito.
Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram, dizendo: «Permanece connosco, pois cai a tarde e o dia já declina.» Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e distribuiu-o.
Então os olhos dos discípulos abriram-se e reconheceram-no; Jesus, porém, ficou invisível diante deles. E disseram um ao outro: «Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?»
Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Encontraram aí reunidos os Onze e seus companheiros, que disseram: «É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» E eles narraram os acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na partição do pão.
Jesus aparece aos apóstolos
Falavam ainda, quando Jesus se apresentou no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!»
JOÃO 20
Mostrou-lhes Jesus as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Ele disse de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio.»
Dizendo isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais os mantiverdes ser-lhes-ão mantidos.»
Um dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio Jesus. Os outros discípulos, então, disseram-lhe: «Vimos o Senhor!» Mas ele disse: «Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser o meu dedo no lugar dos cravos e a minha mão no seu lado, não acreditarei.»
Caravaggio
Oito dias depois, encontravam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!» Disse depois a Tomé: «Põe o teu dedo aqui e vê as minhas mãos! Estende a tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!» Tomé disse: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse Jesus: «Porque viste, acreditaste. Felizes os que não viram e acreditaram!»
Jesus fez ainda, perante seus discípulos, muitos outros sinais, que não se acham descritos. Estes, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
JOÃO 21
Aparição na margem do lago de Tiberíade
Depois disso, Jesus manifestou-se novamente aos discípulos, nas margens do mar de Tiberíade.
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e dois outros de seus discípulos. Simão Pedro disse: «Vou pescar.» Eles disseram-lhe: Nós também vamos contigo.»
Saíram e subiram para o barco e, naquela noite, nada apanharam. Já amanhecera. Jesus estava de pé, na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus. Então Jesus disse: «Jovens, acaso tendes algum peixe?» Responderam-lhe: «Não!»
Disse Jesus: «Lançai a rede à direita do barco e achareis pescado.» Lançaram, então, e já não tinham forças para a puxar, por causa da quantidade de peixes.
Aquele discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!» Simão Pedro, ouvindo dizer "É o Senhor!", vestiu a sua roupa, porque estava nu, e atirou-se ao mar. Os outros discípulos, que não estavam longe de terra mas a cerca de duzentos côvados, vieram com o barco, arrastando a rede com os peixes. Quando saltaram para terra, viram brasas acesas, tendo por cima peixe e pão.
Disse Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes.» Simão Pedro subiu ao barco e arrastou para terra a rede, cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes; e apesar de serem tantos, a rede não se rompeu.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer!» Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: “Quem és tu?”, porque sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o entre eles; e fez o mesmo com o peixe.
Foi esta a terceira vez que Jesus se manifestou aos discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.
Depois de comerem, Jesus disse a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?» Ele respondeu-lhe: «Sim, Senhor, tu sabes que te amo.» Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros.» Uma segunda vez lhe disse: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, tu sabes que te amo.» Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas.» Pela terceira vez disse-lhe: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez Jesus lhe perguntava “Tu me amas?”. Pedro disse: «Senhor, tu tudo sabes; tu sabes quanto te amo.»
Disse Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade, te digo: quando eras jovem, tu cingias-te e andavas por onde querias; quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te conduzirá aonde não queres.»
Disse-o para indicar com que espécie de morte Pedro daria glória a Deus.
Tendo falado assim, disse a Pedro: «Segue-me.»
MATEUS 28
A aparição de Jesus na Galileia e a missão universal
Os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes determinara. Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram.
Jesus, aproximando-se deles, disse: «Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra foi-me entregue. Ide, portanto, e fazei com que todas as nações se tornem discípulos, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei.
E eis que eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!»
Bosch